
Por: Carlos Sánchez Berzaín - 03/12/2025
Por Sabina Nicholls/Diálogo
03 de dezembro de 2025
A Venezuela está sob controle. O que começou como um Estado falido sob o regime de Nicolás Maduro transformou-se em uma máquina criminosa em pleno funcionamento que ameaça a estabilidade regional. Essa é a avaliação de Carlos Sánchez Berzaín, diretor do Instituto Interamericano para a Democracia (IID) e ex-ministro da Defesa da Bolívia, que oferece um diagnóstico contundente dessa transformação e suas implicações geoestratégicas em entrevista exclusiva ao Diálogo.
Com base em fatos verificáveis e anos de monitoramento regional, Sánchez Berzaín afirma que a Venezuela se consolidou como um Estado criminoso, ultrapassando todos os limites de um narcoestado por meio da captura de suas instituições pela corrupção e redes de narcotráfico, da cooptação das Forças Armadas e da dependência de economias ilícitas que hoje sustentam o regime no poder.
O alcance, alerta ele, é hemisférico. Maduro projetou uma rede criminosa transnacional que opera em aliança com cartéis colombianos, grupos armados irregulares, organizações terroristas e atores extrarregionais como China, Irã, Rússia e Coreia do Norte. Essa estrutura, consolidada ao longo da última década, adverte Sánchez Berzaín, constitui uma ameaça estratégica que transformou a América Latina em um campo de batalha dominado por redes de governança criminosa.
Diálogo: O senhor descreveu o narcoterrorismo, essa aliança entre a violência terrorista e a economia criminosa do narcotráfico, como a forma mais cruel de agressão contra os povos da América Latina no século XXI. No entanto, essa ameaça não é nova. O que mudou em comparação com o narcoterrorismo do século XX, e por que o senhor o considera a maior ameaça para a região hoje?
Carlos Sánchez Berzaín, diretor do Instituto Interamericano para a Democracia e ex-ministro da Defesa da Bolívia: Na década de 1980, testemunhamos a ascensão do narcoterrorismo na América Latina com grupos guerrilheiros como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), o M-19 e o Exército de Libertação Nacional (ELN) na Colômbia, que passaram de guerrilheiros ideológicos a produtores, protetores e traficantes de drogas. O mesmo ocorreu no Peru com o Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) e o Sendero Luminoso. Esses são os exemplos mais claros de narcoterrorismo no século XX.
E o que caracterizava esse narcoterrorismo? Era um fenômeno localizado. Essas organizações podiam controlar áreas pequenas ou mesmo grandes, praticavam violência armada, sequestros e assassinatos, mas permaneciam confinadas a um território específico. Apesar de suas capacidades, não controlavam nenhum estado ou país.
O que mudou no século XXI? O narcoterrorismo deixou de ser um fenômeno localizado e suplantou a política por meio da atividade criminosa, tomando o lugar de países inteiros como Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador. Assim, os agentes criminosos passaram a operar como sujeitos de direito internacional, com imunidades e privilégios diplomáticos, mas sem deixar de ser estruturas narcoterroristas.
O melhor exemplo é o Cartel dos Sóis. A recente mudança na política externa dos EUA tem sido precisamente a de restaurar seu caráter criminoso e remover seu status como representante internacional da Venezuela.
Isso teve um impacto enorme na segurança e na estabilidade democrática da região. Em 1994, quando foi realizada a primeira Cúpula das Américas, havia 34 democracias e apenas uma ditadura, Cuba, que também estava em seus últimos suspiros. Mas com a ascensão de Chávez ao poder em 1999, o século XXI tornou-se um período de expansão para essa ditadura, que não apenas se replicou, mas também criou narcoestados e redes criminosas que se apresentavam como governos legítimos. A partir daí, eles lançaram agressões diretas contra as democracias da região.
Tudo isso se enquadra no conceito contemporâneo de guerra híbrida. O narcoterrorismo é uma de suas manifestações, juntamente com a migração forçada, a infiltração do crime comum, o tráfico de pessoas e até mesmo o financiamento de candidatos alinhados a essas estruturas.
Diálogo: Nesse contexto, a Venezuela tem sido identificada por diversos pesquisadores e analistas como um centro de distribuição de cocaína, resultado da estreita relação entre o Estado e as organizações criminosas, consolidando assim o regime de Nicolás Maduro como um verdadeiro narcoestado ou "Estado criminoso". Como essa influência se estende às democracias vizinhas, quais mecanismos corroem ou desestabilizam suas instituições e quais riscos ela representa para a segurança regional?
Sánchez Berzaín: O caso venezuelano é, acima de tudo, resultado da expansão da ditadura cubana. A Venezuela é um narcoestado satélite do sistema ditatorial cubano, e isso não é conjectura, é uma realidade objetiva; ou seja, é um fato comprovado e verificável em múltiplos níveis.
Quando Hugo Chávez chegou ao poder em 1999, ele veio em auxílio de uma Cuba decadente que atravessava seu "Período Especial". A partir desse momento, formou-se uma espécie de troika, com Chávez contribuindo com o capital na forma de petróleo e riqueza venezuelana, enquanto Fidel Castro contribuiu com o conhecimento técnico de um regime que, desde 1959, havia acumulado décadas de repressão, execuções, criação de grupos guerrilheiros, invasões, proteção a terroristas, sequestro de aviões e comprovadas ligações com o narcotráfico. Cuba era, de fato, o primeiro narcoestado do hemisfério.
Com Chávez, o século XXI começou sob a narrativa de um suposto “movimento bolivariano”, que na realidade se revelou a expansão internacional da ditadura cubana. E, paradoxalmente, a melhor coisa que aconteceu a esse projeto foi a morte de Chávez. Enquanto vivo, ele era o líder incontestável graças aos recursos que controlava. Essa riqueza financiava mecanismos como o Petrocaribe, por meio dos quais os votos dos países caribenhos na OEA e nas Nações Unidas eram garantidos.
Utilizando a mesma estratégia, eles avançaram pela América do Sul: Kirchner na Argentina, Lugo no Paraguai, Mujica no Uruguai, Evo Morales na Bolívia, Correa no Equador, Ollanta Humala no Peru e uma influência crescente na Colômbia com Juan Manuel Santos. Este é o mapa político do socialismo do século XXI.
Dois eventos são fundamentais para a compreensão dessa história de 25 anos. Primeiro, a morte de Chávez, que desencadeou uma disputa interna entre o “Castrocismo Venezuelano” — representado por Nicolás Maduro — e o “Chavismo Venezuelano” de Diosdado Cabello. Maduro venceu. E a partir desse momento, a Venezuela tornou-se formalmente uma colônia política de Cuba, algo que não havia acontecido enquanto Chávez liderava o projeto. Basta observar as imagens da época; Castro parecia ser o auxiliar de Chávez, e não o contrário.
Nesse novo contexto, a Venezuela tornou-se a plataforma geopolítica e logística de Cuba, alavancando sua localização geográfica, infraestrutura e riqueza. A partir daí, estabeleceu-se o centro de distribuição de cocaína, uma operação transnacional coordenada com as FARC na Colômbia, o governo Correa no Equador, o regime de Evo Morales na Bolívia, a Nicarágua e, claro, Cuba.
Existem fatos documentados que confirmam isso. Durante a presidência de Chávez e enquanto Evo Morales era presidente da Bolívia, foi revelado — e noticiado pela imprensa internacional — que aviões da Força Aérea Boliviana transportavam cocaína diretamente para a rampa presidencial do Aeroporto de Maiquetía, na Venezuela. Isso foi corroborado por um oficial da Força Aérea Boliviana, o então Coronel Marco Antonio Rocha Venegas, que testemunhou nos Estados Unidos, onde agora vive sob proteção.
É assim que os narcoestados operam. E é também assim que o narcoterrorismo se consolida, emergindo quando o socialismo do século XXI assume o controle de grande parte da região.
Nesse contexto, desenvolvem-se os narcoestados e a estratégia do narcoterrorismo, onde o tráfico de drogas é concebido como uma arma de agressão. Fidel Castro e Che Guevara já afirmavam isso na década de 1970: o tráfico de drogas era um instrumento de luta.
Da Guerra Fria passamos para a guerra subversiva, depois para a guerra irregular e, hoje, para a guerra híbrida. Nesse contexto, os ataques contra democracias na região, como Colômbia, Equador, Peru e Chile, materializam-se por meio de migração forçada, narcotráfico, terrorismo, operações de gangues e o escândalo do Trem de Aragua.
Hoje, a ameaça ultrapassou todas as fronteiras, com o inimigo já identificado e no âmbito de uma guerra híbrida que aponta para a Venezuela, Nicarágua e Bolívia como os principais epicentros dessa agressão.
Diálogo: Em que momento a Venezuela deixou de ser um problema de política interna, de fronteira ou de preocupação regional, e se tornou uma ameaça direta à estabilidade internacional?
Sánchez Berzaín: A Venezuela tornou-se uma ameaça internacional quando as receitas do petróleo começaram a se esgotar. A Venezuela era um país muito rico, mas a expansão do projeto Castro-Chavista, que buscava controlar politicamente toda a América Latina, exigia recursos enormes.
Quando as receitas do petróleo deixam de ser suficientes, surge um mecanismo decisivo de corrupção transnacional, exemplificado pelo caso Lava Jato. [A Lava Jato foi a maior investigação anticorrupção já realizada no Brasil, que revelou um esquema massivo de suborno e lavagem de dinheiro centrado na Petrobras, em empresas de construção e em políticos de alto escalão.]
Quando essa via também se esgota, o regime recorre ao caminho mais lucrativo: o tráfico de drogas, porque nenhum outro negócio consegue competir com ele, especialmente quando opera dentro do próprio governo. E então ocorre um fenômeno crucial: não é que "os traficantes de drogas tomaram o poder", mas sim que aqueles que já estavam no poder se tornaram a máfia. Eles subordinaram o crime organizado e passaram a liderar esse conglomerado criminoso para sustentar seu projeto político.
Isso ocorreu porque a expansão do socialismo do século XXI exigia cada vez mais dinheiro, não apenas para financiar a Petrocaribe, mas também para operações de grande escala, como o apoio a múltiplas campanhas políticas. Era um projeto transcontinental que necessitava de recursos ilimitados.
Em última análise, a expansão do narcoterrorismo segue uma lógica: enfraquecer as democracias, atacar as lideranças democráticas, destruir os sistemas partidários e, simultaneamente, financiar a ascensão de seus próprios líderes. Quando o financiamento legal deixa de ser suficiente, o tráfico de drogas torna-se a principal fonte.
A Venezuela já era um narcoestado sob Chávez, mas o ponto de virada ocorreu com a sua morte. Quando Cuba assumiu o controle total do projeto, o tráfico de drogas se intensificou, se sistematizou e se institucionalizou. Foi nesse momento que a Venezuela deixou definitivamente de ser uma questão interna e se transformou em uma ameaça global.
Diálogo: A Venezuela estabeleceu precedentes alarmantes ao facilitar a obtenção de passaportes e documentos de identidade para agentes extrarregionais, criando canais para lavagem de identidade e mobilidade clandestina. Que padrões de facilitação do crime estão sendo replicados na região com base no modelo venezuelano, e que riscos isso representa para os Estados latino-americanos, que se tornam centros de trânsito para esse tipo de operação?
Sánchez Berzaín: Isso não é novidade. Cuba fez exatamente a mesma coisa nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990. O que parece novo na Venezuela hoje nada mais é do que a reprodução aberta — e agora institucionalizada — de uma prática histórica do castrismo.
Durante décadas, Cuba foi um refúgio para terroristas e fugitivos internacionais. Nas décadas de 1980 e 1990, um passaporte cubano podia "converter" a identidade de qualquer pessoa, e a ilha cobrava pela proteção de criminosos. A Venezuela não inventou isso; ela replica a prática porque Cuba a obriga a fazê-lo. Desde que Maduro chegou ao poder, ele tem agido como um fantoche do regime cubano, e é por isso que todas as práticas criminosas históricas de Cuba — redes de falsificação de identidade, proteção a terroristas, lavagem de identidade — agora aparecem como uma "criação venezuelana", embora não o sejam.
A história é clara. Quem protegeu os guerrilheiros narcoterroristas colombianos no século XXI? Cuba. Onde foi assinado o acordo entre as FARC e o governo colombiano após a rejeição popular do pacto no plebiscito? Em Havana. O que está acontecendo com a Venezuela é simplesmente uma mudança no eixo do crime: o centro está se deslocando de Cuba para a Venezuela, onde se torna mais visível por ser um país grande, estrategicamente localizado, rico e com influência internacional.
Esse padrão não se repete apenas na Venezuela: estende-se à Bolívia, Nicarágua e outros regimes dentro do mesmo bloco. Na Bolívia, iranianos são "reidentificados", narcotraficantes são protegidos e documentos são concedidos com total discricionariedade. Há casos documentados: um dos filhos de El Chapo Guzmán se envolveu em um acidente em Santa Cruz enquanto treinava para ser piloto civil. No ano passado [2024], um escândalo estourou quando se descobriu que um narcotraficante — Masset, ainda foragido — morava em Santa Cruz, era dono de um time de futebol e mantinha relações com altos funcionários do governo. Quando a imprensa o expôs, as autoridades facilitaram sua fuga.
Pouco depois, o segundo em comando do Comando Vermelho, o segundo maior grupo narcoterrorista do Brasil, apareceu em Santa Cruz. E na Argentina, a ministra Patricia Bullrich denunciou a chegada de iranianos com passaportes bolivianos que sequer falavam espanhol. É um sistema completo: documentos falsificados, proteção criminal, movimentação clandestina e redes transnacionais operando com aparência de legalidade.
Qual é o maior risco? Que o poder político seja suplantado pelo crime organizado. Esse é o cerne do problema. O que se espera? Que este ano o Cartel dos Sóis perca sua capacidade de subjugar o povo venezuelano, e que isso desencadeie a queda dos outros centros ativos restantes: Cuba e Nicarágua. A Bolívia está em processo de desmantelamento de suas operações, mas precisa de apoio.
Quando essas quatro ditaduras narcoterroristas deixarem de ser “sujeitas ao direito internacional”, a estrutura que as fortalece também entrará em colapso, e me refiro às imunidades diplomáticas e às embaixadas transformadas em centros de conspiração, espionagem e proteção criminosa. As embaixadas de Cuba sempre foram assim; agora o mesmo acontece com as da Venezuela e da Nicarágua. Diante disso, como uma democracia pode se defender se precisa reconhecer privilégios diplomáticos para aqueles que a atacam?
O exemplo é claro: durante a presidência de Correa, o Equador esteve no centro do escândalo da "narco-mala", envolvendo uma mala diplomática enviada a Londres contendo cocaína. Isso ilustra o nível de infiltração criminosa que se institucionalizou sob esse modelo.
Diálogo: Dado o nível sem precedentes de coordenação entre atores estatais criminosos e o crime transnacional, este ano assistimos a um aumento nas designações terroristas contra organizações criminosas transnacionais, desde cartéis mexicanos ao Tren de Aragua e ao Cartel dos Sóis. Isto marca uma verdadeira virada no confronto entre os Estados criminosos e a arquitetura democrática e de segurança da região. Quais são as implicações práticas desta mudança?
Sánchez Berzaín: O verdadeiro ponto de virada não está nas nomeações, mas na mudança da política externa dos EUA, que está produzindo uma mudança na geopolítica — a política aplicada ao território das Américas. Os Estados Unidos estão remodelando o mapa regional, com países como Argentina, Peru, Paraguai, Uruguai, Panamá, Costa Rica, República Dominicana e até mesmo Bolívia alinhando-se a essa estratégia. Embora outros permaneçam à margem, a mudança geopolítica já está em curso.
E as consequências são evidentes com as operações simultâneas de combate ao narcotráfico. Enfrentamos um dilema incontornável: ou os governos protegem o narcoterrorismo, ou cumprem seu dever fundamental de fazer cumprir a lei.
Essa é a primeira mudança: a reconfiguração geopolítica do hemisfério. A segunda é a restauração dos fundamentos democráticos. Isso implica restaurar as liberdades e os direitos atualmente violados pelo narcoterrorismo; reconstruir o Estado de Direito demolido por leis infames criadas para proteger o crime organizado; restaurar a independência judicial; e garantir a livre organização política para que as estruturas criminosas não possam se tornar partidos políticos ou instrumentos de poder.
Diferentemente da década de 1990, quando narcotraficantes financiavam políticos, como aconteceu na Colômbia com o caso de Ernesto Samper, hoje são os narcotraficantes que detêm o poder. Nicolás Maduro na Venezuela, Miguel Díaz-Canel em Cuba, Evo Morales na Bolívia e Daniel Ortega e Rosario Murillo na Nicarágua não são infiltrados; são chefes de estruturas narcoterroristas. O sonho de Pablo Escobar se concretizou, e não se fala mais de políticos corruptos, mas de Estados dominados pelo crime organizado.
Nesse sentido, as designações são apenas a superfície de uma mudança muito mais profunda. Pela primeira vez em muitos anos, a região identificou claramente o adversário, e esse adversário é o narcoterrorismo, com o regime de Maduro como seu centro operacional.
O que importa agora não é a retórica, mas os resultados. E estes já começam a surgir. O caso mais evidente é o do Chile, onde, após o assassinato do tenente venezuelano Ronald Ojeda Moreno, opositor do regime de Nicolás Maduro, pelo cartel Tren de Aragua, o Estado reagiu de forma decisiva e adotou uma estratégia genuína para combater o crime organizado transnacional. No fim, o que será crucial será medir as ações, e não apenas as nomeações.
Diálogo: O Caribe é frequentemente deixado de fora do debate, mas é uma área estratégica para redes criminosas transnacionais. Será que o Caribe se tornou um reflexo do avanço do crime organizado ligado a esses regimes? Quais são os sinais mais evidentes de que a região está absorvendo as consequências dessa criminalização da política?
Sánchez Berzaín: O Caribe é, na realidade, um reflexo direto do que acontece no continente. Se a América Central ou do Sul pega um resfriado, o Caribe pega uma pneumonia. Essa é a magnitude do impacto. Hoje, a região está sentindo imediatamente as consequências de um ecossistema criminoso transnacional.
A chave para reverter essa tendência é remover o crime organizado do poder político e devolvê-lo ao seu devido lugar: o da aplicação da lei. Quando o crime não estiver mais infiltrado nas estruturas governamentais, nenhum Estado estará subserviente a essas máfias, e a aplicação da lei se tornará possível e eficaz.
Esse era o cenário na década de 1990: narcoterrorismo localizado, identificável e passível de punição legal. Hoje, no entanto, a lei enfrenta obstáculos como as “imunidades diplomáticas” que protegem os criminosos.
A verdade é que o Caribe e todo o hemisfério estarão em melhor situação quando o crime for afastado da política. Hoje, organizações como o Tren de Aragua operam sob a proteção dos governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Um membro do Tren de Aragua que busca refúgio pode se dirigir a uma embaixada cubana, venezuelana ou nicaraguense.
Quando o crime retornar à sua verdadeira dimensão — a da atividade criminosa — e deixar de ser protegido pelas estruturas estatais, a aplicação da lei deixará de ser uma batalha impossível e recuperará sua eficácia. Esse é o caminho que deve ser seguido.
PARTE II
Na segunda parte desta entrevista, Carlos Sánchez Berzaín examina como a Venezuela, juntamente com outros regimes aliados, se tornou um palco central na guerra híbrida global. Da penetração operacional do Irã e suas redes terroristas à influência estratégica da China e da Rússia em infraestrutura, tecnologia e recursos críticos, a região, alerta Sánchez Berzaín, é agora um centro estratégico de desestabilização transnacional.
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