Por: Beatrice E. Rangel - 07/10/2025
Em dois terços do Hemisfério Ocidental, a única coisa sobre a qual se fala é o possível resultado do confronto entre os Estados Unidos e o regime que atualmente ocupa a Venezuela. Porque, quando os Estados Unidos declararam guerra ao crime organizado transnacional, seu primeiro alvo foi obviamente a Venezuela, um país dominado, juntamente com o Haiti, por esse ator não estatal.
Para muitos, o desembarque de unidades militares americanas é iminente. Para outros, será uma negociação de última hora que permitirá que os líderes da Cosa Nostra venezuelana busquem refúgio em algum lugar do planeta.
Na minha opinião, nenhuma dessas resoluções tem qualquer fundamento na realidade. Primeiro, porque já está bem claro para os Estados Unidos que usar a força militar para mudar regimes é uma estratégia cara, complexa e inútil, uma vez que os países que foram submetidos a essa prescrição não viram o florescimento de um sistema democrático que consagrasse a liberdade para seus habitantes e a paz para seus vizinhos. Recordemos as invasões do Haiti e do Iraque, os eventos no Afeganistão e a anarquia na Líbia. Num momento de sua história em que os Estados Unidos ostentam uma dívida pública igual ao seu Produto Interno Bruto e o governo Trump está redefinindo o quadro geopolítico global, invadir a Venezuela é imprudente.
Mas o que está bastante claro é que os Estados Unidos estão aplicando uma política de sufocamento na Venezuela. Essa política começou aumentando significativamente o custo das operações de navegação mercante para a Venezuela, com interdições diárias de navios com destino àquele país. Do ponto de vista financeiro, as sanções retiraram o regime venezuelano do quadro dos sistemas financeiros internacionais, forçando-o a recorrer à terceirização de suas transações, o que eleva os custos a níveis insustentáveis. E, finalmente, foram identificados os intermediários e pontos de venda de minerais preciosos como ouro e diamantes, bem como os elementos de terras raras que impulsionam a indústria eletrônica. Os Estados Unidos também iniciaram negociações com a China para reorganizar as relações entre os dois Estados. Porque quem acredita que as negociações se limitam a quem adquirirá o TikTok está definitivamente vivendo em um limbo. E entre o pacote de questões para reorganizar o mundo está a questão energética. E isso aconselha a China a resolver suas necessidades energéticas no Oriente Médio e não no Hemisfério Ocidental. Portanto, o regime venezuelano pode perder um de seus poucos clientes. Se é que já não perdeu. Isso sem levar em conta o regime de terror que se estabeleceu no leste da Venezuela em decorrência da explosão, pelos Estados Unidos, de todas as embarcações de pequeno calado que deixam as águas territoriais do país.
Tudo isso leva à conclusão de que os EUA apostam que o destino do regime venezuelano é a implosão. Tal resultado seria provocado por um colapso interno violento. Especialmente quando o próprio presidente Trump afirmou ter ordenado o rompimento de todo o diálogo com o regime liderado por Nicolás Maduro. Esse regime, como todos aqueles baseados na distribuição de espólios ilícitos, tende a entrar em colapso na ausência de um influxo de recursos econômicos. E o regime venezuelano está ficando sem recursos. Isso, mais cedo ou mais tarde, levará ao seu colapso.
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