Nas Américas o Estado de Direito sucumbe

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 27/02/2024


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Em 21 de setembro de 1972, o mundo ficou chocado com o assassinato de Orlando Letelier, ex-embaixador do Chile nos Estados Unidos e ex-membro do gabinete executivo presidido por Salvador Allende. O crime foi planejado e executado por agentes da DNA do Chile, país que na época era governado por Augusto Pinochet.

E embora o desacordo que o assassinato causou entre as autoridades do Chile e as dos Estados Unidos nunca tenha transcendido a opinião pública, os factores de poder dos Estados Unidos indicaram ao senhor Pinochet que a prática de crimes políticos no seu território não era bem-vinda. Washington.

Há setenta anos, a maioria das nações da região era governada por ditaduras militares.Essas ditaduras, com exceção das de Pinochet e Rafael Leónidas Trujillo, respeitavam o Estado de direito em outros países do hemisfério. Esta prática não é seguida pelos ditadores modernos, uma vez que as agências de inteligência da região informam que existem grupos criminosos que, vestindo roupas políticas e alegando credenciais esquerdistas, adotaram o modus operandi de ambos os ditadores.

A nova geração autoritária inovou no que diz respeito à violação do Estado de direito e à execução de missões destinadas a violar os princípios do asilo político e da inviolabilidade dos territórios estrangeiros.

Vemos assim como o regime venezuelano mistura entre os migrantes desesperados que fogem da pobreza e da morte elementos do crime organizado com os quais selaram pactos de cooperação. Assim, as comunidades exiladas e a simples diáspora são monitorizadas por um corpo de criminosos que não só informam o regime venezuelano sobre os acontecimentos que ocorrem no seio da comunidade expatriada, mas também realizam ações punitivas, sejam elas agressões, roubos ou assassinatos.

Muitas destas práticas passam despercebidas, uma vez que as vítimas são pessoas que actuam como mensageiros das forças da oposição ou como activistas que organizam manifestações e protestos. O modus operandi do regime venezuelano consiste em enviar um dos bandidos infiltrados nos rios migrantes para dizer à pessoa que desejam silenciar que haverá retaliação se continuarem a denegrir o regime bolivariano. E claro que as ameaças tornam-se credíveis quando os bandidos aparecem nas proximidades das escolas ou das simples casas dos migrantes.

Também não faltam operações de sequestro de pessoas que, graças aos esforços da comunidade internacional, conseguiram sair da Venezuela. O episódio mais recente desta série foi o sequestro perpetrado em solo chileno contra o tenente Ronald Ojeda Moreno.

Em resumo, o Estado de Direito criado pelas gerações que lutaram pela democracia na América Latina como Victor Paz, Victor Haya de la Torre; José Figueres Ferrer, Alberto Lleras Camargo, Eduardo Frei Montalvo, Arturo Frondizi e Rómulo Betancourt estão sendo destruídos pelo socialismo do século XXI.

O colapso do Estado de direito na América Latina terá graves consequências para a estabilidade regional e poderá acontecer que os Estados Unidos não consigam enfrentá-lo com sucesso, uma vez que não foram capazes de enfrentar a onda migratória de latino-americanos que procuram viver em uma nação governada pelo estado de direito. A principal democracia do mundo livre poderia então ser sequestrada.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.