E você também México?

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 15/11/2022


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O México assumiu um papel de liderança na luta pela defesa da democracia, com a população saindo às ruas para protestar contra a aspiração do presidente López Obrador de modificar o marco institucional que rege os processos eleitorais. Sob o grito de "O INE não se mexe" - referindo-se à mais alta autoridade eleitoral - milhões de mexicanos se reuniram em torno do anjo do Paseo de Reforma para indicar ao presidente que ele está fora dos limites. Essa reação cidadã surpreendeu muitos analistas, já que no México ainda existe uma cultura de servidão a quem ocupa a presidência que se assemelha à que prevalecia na época dos astecas. Os presidentes mexicanos têm sido, portanto, uma espécie de imperador que impõe sua vontade ao Estado mexicano sem prestar contas a ninguém. Por isso, a força surpreendeu

Esse desenvolvimento faz parte de dois processos que o presidente López Obrador parece ignorar. Nos Estados Unidos vivem 40 milhões de mexicanos que se inseriram na vida econômica e política daquele país. Dos 52 hispânicos eleitos como membros do Congresso dos Estados Unidos, quase 30 são de origem mexicana. O mesmo vale para os empresários hispânicos, em sua maioria também mexicanos. Esses cidadãos americanos têm família no México e visitam esse país com frequência, assim como seus parentes os visitam. É inevitável que os mexicanos comparem sua situação política e econômica com a de seus parentes americanos e concluam que quanto maior a liberdade, maior o progresso.

Em segundo lugar, há o comércio. Desde 1995, o México se beneficia de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Isso colocou elos na cadeia de valor da economia americana no México. E os beneficiários disso foram trabalhadores e operadores que conseguiram entrar na classe média. Essa próspera classe média teme e odeia o autoritarismo.

Ambos os processos criaram o que chamo de lutadores democráticos que só querem defender os ganhos da democracia e do progresso e estendê-los a seus filhos.

Na América Latina, os ares de liberdade são muito semelhantes aos que caracterizaram a década de 1980, quando toda a região pôs fim às ditaduras autoritárias para iniciar a transição para a democracia.

Depois vieram as decepções devido à incapacidade da democracia para resolver problemas antigos, como a paralisia do desenvolvimento que é diretamente atribuível ao rentismo das elites. E a população pegou atalhos para seguir lideranças antidemocráticas. Mas diante do agravamento da situação política e econômica, os povos parecem ter voltado ao caminho da liberdade. O México juntou-se a esta luta.


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