Colômbia…e o lobo retorna

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 11/06/2025


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A Colômbia, juntamente com Brasil, Namíbia, África do Sul e Zâmbia, está entre os países mais desiguais do mundo, com 80% das terras férteis concentradas nas mãos de 2% da população e um coeficiente de Gini de 0,54. Essa concentração não é apenas produto do feudalismo colonial, mas também da ascensão do crime organizado na Colômbia, cuja riqueza ilícita foi transformada em propriedade de terras. Embora a reforma agrária tenha sido tentada, ela nunca se tornou realidade graças a milhares de truques dos proprietários de terras para impedir a implementação das leis de reforma agrária. Da mesma forma, o Estado de Direito se estende a alguns segmentos da população, enquanto outros sofrem as ações arbitrárias e o despotismo de líderes locais, grandes empresários e qualquer portador de armas, seja um capataz, um policial, um soldado ou um chefe. Em suma, a Colômbia não é uma nação que tenha experimentado o que o PNUD chama de desenvolvimento humano. Nessas circunstâncias, nem todos os colombianos são livres. E aqueles que não são livres não sentem o menor apego às instituições, militando agora e sempre nas fileiras da violência. Assim, a violência fez e faz parte do seu metabolismo vital.

Isso se refletiu no famoso período de La Violencia (1948-1959). Estima-se que entre 200.000 e 300.000 pessoas morreram durante esse período. Essa violência foi seguida por levantes de guerrilha (1960-presente); guerras de cartéis de drogas contra o Estado (1980-1995); e violência paramilitar (1994-2004). Em todos esses episódios, a população civil foi dizimada como resultado de acertos de contas entre políticos, líderes de cartéis de drogas, guerrilheiros entre si e contra forças policiais ou exércitos paramilitares comprometidos com o tráfico de drogas. Em suma, a Colômbia exibe uma história em que tanto a violência econômica quanto a política fazem parte do DNA nacional. E, embora exista um sistema democrático formal, ele está repleto de brechas pelas quais a plutocracia colombiana se infiltrou para preservar seu monopólio sobre as rédeas do poder.

Durante a era verdadeiramente democrática, apenas Virgilio Barco parecia compreender que a democracia era irmã gêmea do livre mercado e que a eficiência do Estado na prestação de serviços públicos dependia da abertura de oportunidades para que as camadas menos desenvolvidas melhorassem sua situação financeira. Durante o governo de Barco, os dois problemas subjacentes às ondas de violência: a desigualdade e a ausência de um arcabouço legal que consagrasse a democracia liberal, foram abordados pela primeira vez. Ele deixou para trás a Constituição de 1991 e o início das negociações de paz com vários grupos guerrilheiros. Foi sob a liderança de Barco que o M-19 entregou suas armas. Seu sucessor, Cesar Gaviria, deu continuidade à política de modernização do Estado, apoiando as reformas articuladas por Barco. Gaviria também conseguiu prender Pablo Escobar, chefe do cartel de Medellín, e deu continuidade às negociações de paz com os insurgentes. Andrés Pastrana tentou deixar sua marca pessoal nas negociações de paz, mas seu plano foi rejeitado pelas FARC. A grande conquista de seu governo foi o Plano Colômbia, firmado com os Estados Unidos para combater o narcotráfico. Álvaro Uribe teve que enfrentar de frente as máfias e guerrilhas do narcotráfico que se recusaram a aceitar o diálogo. Uribe enfatizou o combate à violência criminosa e deu menor importância à modernização do Estado. Juan Manuel Santos concentrou-se nas negociações de paz, fechando com sucesso um acordo de paz que foi rejeitado pela população em um referendo. Duque retornou ao tema da modernização do Estado, concentrando-se nas reformas tributária e previdenciária. Petro tentou seguir o caminho destrutivo de outros ativistas de esquerda latino-americanos, como os de Cuba, Honduras, Bolívia e Venezuela. No entanto, encontrou um sólido muro institucional erguido por Barco e consolidado por Gaviria. Diante desse obstáculo, recorreu a discursos inflamados e à violência verbal contra seus rivais. Esse comportamento, fruto de sua fragilidade em relação ao uso de certas substâncias, fez dele uma espécie de canalha, em quem o povo vê uma decepção; os cultos, um perigo; e o mundo, uma farsa excepcional para a Colômbia.

Este resumo conciso nos ajuda a entender o que desencadeou o ressurgimento da violência na Colômbia. Com exceção de Barco, nenhum dos presidentes democratas compreendeu que, para haver democracia, é preciso liberdade e livre mercado, e que estes não podem existir em um país onde 2% da população possui terras férteis; onde não há infraestrutura moderna que permita a mobilidade entre províncias e cidades; e onde os serviços públicos, os meios de abrir oportunidades para os menos afortunados, estão em constante deterioração. A pobreza é assim perpetuada e, dentro dela, surgem exércitos de violência. Acabamos de testemunhar o ataque ao senador Uribe Turbay, perpetrado por um garoto de 14 anos que confessou ter cometido o crime para garantir a alimentação de sua família. Em suma, enquanto houver uma desigualdade tão acentuada e a ausência de liberdades para todos na Colômbia, haverá violência.


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