Colômbia: Vale a pena sair da Petro?

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 01/07/2025


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A Colômbia, juntamente com Uruguai, Costa Rica, Chile, Argentina, Brasil e México, é uma nação que conseguiu construir uma estrutura institucional sólida ao longo dos anos, permitindo-lhe manter seu ethos republicano diante de muitos desafios, como uma cultura autoritária; uma preferência dos cidadãos por resolver conflitos por meio da violência; e o surgimento e a consolidação de um narcoestado.

O estabelecimento do Estado de Direito tem sido fundamental para a relativa estabilidade política da Colômbia e para o fortalecimento progressivo de sua democracia. O mandato de Gustavo Petro terminará em 2026, e manter este evento no calendário político colombiano deve ser o objetivo mais acalentado pelas elites do país.

Porque, além do veredito do povo colombiano sobre os méritos ou não da administração de Gustavo Petro, existe um arcabouço constitucional que determina o início e o fim de seu mandato. A manutenção dessa ordem constitucional é essencial para o fortalecimento da democracia colombiana.

De fato, embora poucos reconheçam esse desenvolvimento como fundamental para a consolidação do arcabouço institucional colombiano, a Colômbia gozou de estabilidade jurídica graças ao fato de, ao longo de sua história, ter tido apenas quatro constituições. E todas elas foram fruto da construção do arcabouço existente. Isso contrasta com outros países latino-americanos, onde os textos constitucionais não só foram numerosos (em alguns casos, mais de 60), mas muitos deles representam rupturas completas com o passado.

A conduta cívica dos colombianos no aperfeiçoamento dos textos constitucionais rendeu dividendos democráticos.

Portanto, embora o país esteja agora abalado pelas revelações de Álvaro Leyva Duran, ex-ministro das Relações Exteriores do governo Petro, a melhor opção para a Colômbia é adiar a abordagem até que Gustavo Petro conclua seu mandato. Até lá, haverá tempo e recursos suficientes para exigir responsabilização do então presidente. E, aliás, essa responsabilização também deve ser exigida do ex-ministro das Relações Exteriores.

Remover Gustavo Petro neste momento seria um veneno mortal para a democracia colombiana. Uma análise cuidadosa das pesquisas sobre a liderança e o mandato de Gustavo Petro revela considerável descontentamento entre suas próprias fileiras, que compreendem os estratos D e E. No entanto, esse descontentamento é atribuído à incapacidade de Gustavo Petro de se impor aos setores conservadores da política colombiana, e não à sua incompetência. Além disso, esses mesmos setores acreditam que o sucessor de Petro deve se esforçar para alcançar os objetivos de democratização, inclusão e desenvolvimento social que se mostraram impossíveis para ele.

Com tal arcabouço político, a remoção de Gustavo Petro apenas consolidaria sua imagem de redentor perseguido pelas elites; fortaleceria ainda mais o apoio a alguns de seus programas que foram francamente prejudiciais ao desenvolvimento da Colômbia; e confirmaria na mente de muitos colombianos a crença de que a democracia é manipulada por entidades poderosas. Isso começaria a minar a fé na democracia, e o povo colombiano poderia ser vítima da miragem da destruição institucional como mecanismo de progresso. Ao longo dos anos, o país poderia seguir o modelo da Venezuela, onde a remoção de um presidente democraticamente eleito pôs fim a quarenta anos de democracia. E me pergunto se valeria a pena remover Petro para enfraquecer a democracia. No fim das contas, faltam apenas alguns meses para o fim do mandato de Petro, e a sociedade colombiana demonstrou um talento especial para controlar seus impulsos populistas recorrendo ao arcabouço institucional.


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