Uma “independência” entre letras

Luis Beltrán Guerra G.

Por: Luis Beltrán Guerra G. - 14/07/2025


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Ouvimos dizer que “a independência dos países” não deixou de ser “uma tendência” tanto no contexto económico, onde reina a “interdependência”, como no contexto político, a propósito do qual lemos que foi, é e continua a ser “um desejo legado pelo “Iluminismo”, um movimento que, libertando-nos do colonialismo, conduziria à “felicidade do homem”.

Para a filosofia, alguém é “independente quando não obtém para “ser tal”, a ação de outro” (um homem ou um Estado são chamados tais na medida em que sua vida ou sua conduta não dependem da de outro homem ou Estado. “Um fato é independente de outro na medida em que não está nas mãos do primeiro”. E qualquer proposição é independente de outra ou de um sistema de proposições se uma não é dedutível da outra (Giovanni Fornero, Dicionário de Filosofia, 2004).

A história, como é notoriamente propagada, revela que o "poder" (alguns chegam a atribuir-lhe um "caráter original"), do qual tudo depende, é decisivo, na realidade, entre as relações de força que caracterizam as classes sociais e o Estado. O poder também se observa nos diversos setores da sociedade, a começar pelas relações cotidianas entre os próprios cidadãos. É percebido como um processo longo, sempre em aberto e jamais concluído. A "independência" deve ser conceituada, no contexto humano atual, como "uma consequência" das lutas entre "políticos, intelectuais, cientistas e gênios poderosos" versus "os pobres" (necessitados, indigentes, necessitados, desprotegidos, desamparados e, em alguns casos, miseráveis ou mendigos). Também com algo escasso ou de baixa qualidade, insuficiente, carente ou humilde. A independência, na política, está associada à "soberania" e pode, portanto, ser descrita como o aspecto externo daquela. Note-se, porém, que a primeira deve ser interpretada, no contexto real, como “relativa”, pois postula um valor igualmente relativo e até teórico, pois na realidade “a imposição imperialista e hegemônica de Estados econômica e militarmente fortes submete os outros a diversas formas de obediência política” (Borja, Enciclopédia, 1997).

É nessa realidade inquestionável que "a independência e a soberania que ela implica" se percebem com mais clareza, com a necessidade peremptória de medidas formal e substancialmente sérias, bem estudadas e avaliadas, como caminho para a seriedade que exigem. Este é o sentido deste ensaio, particularmente no que se refere à "construção de repúblicas", e ainda mais quando estas se estruturam como democráticas, pois exigem "uma hierarquia de ideais e uma alta dose de coragem". O oposto, como sempre e embora surpreendente, é mais comum, atual e ordinário. Nem todos podemos ser chefes de Estado, senadores, deputados e juízes. O proeminente venezuelano Marco Tulio Brunicelli (RIP) nos deixou a frase lapidar: "Governar é coisa séria", elogiada por Dom Rómulo Betancourt, um de nossos líderes e presidente constitucional e democrático, convencido de que, para governar, legislar e decidir de acordo com a lei, não apenas os conflitos intersubjetivos, mas também os das "gônadas masculinas" são cruciais: preparação, capacidade de trabalho e honestidade. O oposto caracteriza, com poucas exceções, as chamadas "democracias de papel" na América Latina hoje. Os regimes que devem existir exigem esforços sérios, que não podem ser contidos em simples "cartas" ou equivalentes. Algumas são enviadas por libertadores e seus colaboradores, e outras por figuras proeminentes que admiram as façanhas libertárias. Mas, mais grave, são enviadas por supostos colaboradores e aparentemente de boa-fé. Em última análise, ocorre o oposto, na maioria dos casos: "má-fé e até mesmo engano".

O professor espanhol Luis Sánchez Agesta acredita que o poder é uma energia projetada na vida social, dada a obediência que prestamos, e que responde à persuasão, ao medo ou à aceitação de uma hierarquia superior. Ele também se refere à "organização da força material", bem como aos "aspectos espirituais", que são determinantes tanto na "vida social quanto no comportamento dos outros homens", e, nesse sentido, chega a propor "uma reorganização política da humanidade". O acadêmico reitera que se trata de "uma energia" porque a vontade de quem exerce o poder é decisiva no comportamento dos outros, cuja base é a capacidade de persuasão ou coerção do poder e a racionalidade e as motivações psicológicas que impulsionam a obediência. Por fim, o professor ressalta que o poder também é benéfico na medida em que arbitra potenciais disputas e garante a paz.

É sabido que, em 1492, Cristóvão Colombo, convencido de uma rota ocidental para a Índia e a China, acabou desembarcando nas Bahamas, dando início ao que ficou conhecido como Império Espanhol, uma concepção equivocada da qual emergiu o "latino-americanismo", libertado algum tempo depois rumo à independência, teoricamente com um substrato soberano. O venezuelano Simón Bolívar foi o autor do feito da independência de um continente que ainda hoje busca estabilidade política e prosperidade econômica. Tudo foi feito, mas pouco foi frutífero. A independência e a soberania dentro dela incitam amassadas entre papéis.

São descritas como constituições à mercê de quem as escreve, direta ou indiretamente. A América do Sul é vista com desconfiança pelos países estabelecidos. Somos vistos como estando no caminho tortuoso para nos tornarmos democracias verdadeiras, respeitadas e socialmente orientadas. E com pouca esperança.

Talvez tenhamos nos proposto alcançar objetivos tão louváveis, porém difíceis, por meio de cartas, como os amantes de outrora. No livro "José Antonio Páez, Fundador da República", do jurista e amigo Dr. Tomas Polanco, cujos filhos tive a sorte de ter como discípulos, há evidências do uso de cartas entre o Libertador e Páez, um caminho para sua posse como Presidente da então república.

Queira Deus que o leitor compartilhe esta opinião.

E concordo, como já expressei, que "ao nos libertarmos do colonialismo encontraremos o caminho para a "felicidade do homem".

@LuisBGuerra


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