Um equilíbrio de Juan Guaidó

Pedro Corzo

Por: Pedro Corzo - 10/05/2023

Colunista convidado.
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Sempre se disse que se opor a um regime de força é particularmente difícil, entre outros fatores, pela diversidade de membros, interesses e causas daqueles que enfrentam a autocracia, no entanto, Juan Guaidó e aqueles que o apoiaram marcaram um marco quando o deputado, hoje, fora de seu país, foi proclamado, em 2019, presidente interino da República da Venezuela por sua condição de líder da Assembleia Nacional em substituição ao governante Nicolás Maduro.

Uma decisão constitucional em um país onde a oposição respeita muito mais a Constituição do que o próprio governo.

Isso foi um marco, embora não tenha passado de um ato simbólico, pois não há poder real quando não se tem força para implementar decisões, porém, tudo parece indicar que os adeptos da proposta depositaram nela esperanças e convenceram diziam que o governo paralelo, por si só, derrubaria a ditadura.

O importante é que o governo interino conviveu com o despotismo no próprio território nacional, sem se fechar em santuário protegido como tem acontecido ao longo dos tempos. Esse foi um desafio constante para Maduro e seus capangas, que honraram a genuína oposição venezuelana, que nunca tentou coabitar com seu inimigo.

O apoio, dentro e fora do país, que essa oposição organizada gerou, levou os autocratas castristas chavistas a concluir que eliminar fisicamente Guaidó e seus partidários teria consequências muito onerosas para seu mandato, e embora nunca tenham faltado perseguições e ameaças. criminosos sabiam como se conter.

Guaidó sempre agiu com muita integridade e coragem. Não duvido que tenha cometido erros, mas a sua conduta serviu de inspiração para muitos de nós que passamos anos a opor-nos a um regime totalitário, pelo que o respeito particularmente, embora mais de um dos seus compatriotas me tenha dito que lhe faltou firmeza separar do governo provisório alguns alpinistas, sempre presentes onde há mercadorias.

É verdade que os resultados não foram os desejados, mas sua postura durante a caravana humanitária que transportou mantimentos da fronteira colombiana à venezuelana, com o apoio do presidente Iván Duque, não foi nada parecida com a atuação do presidente Gustavo Petro que o deportou de seu país, determinou que o ex-presidente disse recentemente, “ele ficou do lado da ditadura, não dos perseguidos politicamente, dos que violaram os direitos humanos. E isso é marcado por sua agenda: todas as vezes que ele foi à Venezuela, e já foi várias vezes à Venezuela, não teve um minuto da agenda para se encontrar, por exemplo, com indígenas deslocados pela destruição da Amazônia (...), não teve um minuto sequer na agenda das vítimas de direitos humanos",

O governo interino alcançou notável reconhecimento internacional e até que lhe fossem repassados ​​recursos que teriam ido parar nos cofres da ditadura, ingrediente, segundo alguns, desastroso para o governo interino. Guaidó pode ter feito pouco por seus críticos, mas suas ações levaram dezenas de países a reconhecê-lo e até a nomear embaixadores para alguns deles, uma situação que tem poucos ou nenhum precedente.

Lembro que, juntamente com uma delegação de pessoas comprometidas com a luta pela democracia em Cuba presidida por Orlando Gutiérrez, fomos recebidos pelo embaixador nomeado por Guaidó e pela Assembleia Nacional, na sede diplomática de Caracas, em San José, Costa Rica. Vários dos embaixadores nomeados pelo governo provisório foram reconhecidos em diferentes países e até organizações internacionais como a Organização dos Estados Americanos aceitaram um representante contrário ao regime castrista chavista.

A posição venezuelana criptografou suas expectativas de mudança na gestão eleitoral, a mais prudente, justa e adequada, mas a meu ver nada viável devido ao controle exercido pelo regime sobre o Conselho Nacional Eleitoral, ao qual se deve acrescentar a divisão do oposição, um processo natural em uma democracia formal, mas desastroso quando se luta contra a autocracia.

A saída de Juan Guaidó, como de qualquer outro que o tenha substituído, deixa um vazio no imaginário popular, que considero fundamental para atrair o eleitorado para uma participação massiva nas próximas eleições.


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