Um crime esquecido do castrismo

Pedro Corzo

Por: Pedro Corzo - 24/10/2025

Colunista convidado.
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Décadas se passaram, dias e horas devastadoras, a tal ponto que aqueles que viveram aqueles tempos terríveis mal se lembram deles, e é por isso que é prudente que as novas gerações do hemisfério saibam que o castrismo desenvolveu muitas das estratégias mais violentas e criminosas que as Américas já conheceram.

É muito importante mergulhar no passado; nenhum crime deve ficar impune, muito menos esquecido. Daí a importância do trabalho do cineasta Lilo Vilaplana e do ativista Reinol Rodríguez, com um documentário histórico sobre o fatídico voo 495 da Cubana de Aviación, que caiu perto da Baía de Nipe após ser sequestrado por seguidores de Fidel e Raúl Castro.

Rodríguez e Vilaplana tentam trazer à tona um crime que foi recebido com o silêncio cúmplice de muitos, incluindo autoridades e diversos veículos de comunicação importantes da época. O próprio governo dos Estados Unidos, segundo relatos da mídia, declarou que o incidente estava fora de sua jurisdição; aparentemente, foram seduzidos pelas armadilhas do castrismo.

Esses dois cubanos, comprometidos com a verdade histórica, investigaram minuciosamente os eventos mencionados acima e entrevistaram sobreviventes do desastre, incluindo Omara González, passageira do voo mencionado.

O castrismo foi violento durante a revolta e ainda mais como governo. Durante sua gestão, plantaram explosivos em locais públicos para forçar a população a ficar em casa, assassinando policiais e soldados para motivar a repressão governamental, uma violência oficial feroz que também deve ser lembrada. Isso culminou na estratégia castrista dos "três Cs: zero cinemas, zero casas noturnas e zero Cs..." em referência a bordéis.

Essa ameaça foi rapidamente confirmada quando uma bomba colocada na bolsa de uma mulher abandonada explodiu em uma boate da capital, ferindo várias jovens, uma das quais teve que amputar o braço, lembrou o escritor José Antonio Albertini, que também foi um dos que tentaram resgatar o voo 496 do esquecimento em seu programa na WLRN.

Às vezes, a violência causava estragos nas próprias fileiras dos insurgentes, como na cidade de Santa Clara, quando dois jovens estudantes carregavam uma bomba que explodiu prematuramente e fatalmente.

Os bombardeios e sequestros realizados pelas tropas de Castro em cumprimento às ordens fatídicas dos irmãos empalidecem em comparação ao crime horrendo ocorrido em 1º de novembro de 1958, exatamente dois meses antes de uma escuridão que durou 66 anos e 10 meses chegar a Cuba, dois dias antes das últimas eleições plurais, embora fraudulentas, de nossa história.

Como sinal de que a espiral de violência de Castro estava pronta para operar fora da Ilha, Raúl Castro emitiu a Ordem 30, autorizando o sequestro de cidadãos americanos. Isso levou ao sequestro de 49 americanos na Serra em junho de 1958, incluindo 20 civis, funcionários da usina de mineração de níquel Moa, de propriedade americana, e 29 fuzileiros navais.

Incompreensivelmente, os dolorosos acontecimentos do Voo 495 foram pouco mencionados entre os cubanos. Gerardo Reyes, um renomado jornalista colombiano, participou do resgate. Ele dedicou 10 anos de sua vida a uma investigação que culminou em um livro intitulado "Voo 495", uma obra que mostra como pessoas inocentes se envolvem em situações complexas que podem culminar em suas próprias mortes.

O voo 495 da Cubana de Aviación foi o primeiro avião sequestrado no espaço aéreo dos EUA. Os passageiros não tinham vínculos com o governo cubano; não eram alvos políticos; os sequestradores aparentemente pretendiam transportar armas, munições e possivelmente dinheiro para as guerrilhas orientais.

A viagem até Varadero, de pouco mais de 300 quilômetros e 45 minutos, nunca chegou ao seu destino. A bordo do turboélice Vickers Viscount, havia 16 passageiros, incluindo uma mulher grávida.

A aeronave foi capturada por cinco jovens militantes do malfadado Movimento 26 de Julho, supostamente seguindo ordens de Raúl Castro. A operação terminou em tragédia, segundo o jornal Gente em sua edição de 16 de novembro de 1958. Dezessete pessoas morreram, incluindo seis cidadãos americanos. Nenhum dos autores foi responsabilizado pelo crime. Mais uma tragédia cubana da qual "ninguém quer ouvir falar, muito menos ver".


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