Sobre a CELAC

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 25/01/2023


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Por ocasião da reunião da CELAC em Buenos Aires, o mundo fez um inventário das organizações de coordenação e integração regional. Na América Latina, uma das regiões menos integradas do mundo, há um total de 16 organizações supranacionais de integração. A Europa, ao contrário, tem apenas uma organização: a União Européia. A África, com o maior território e população, tem um total de 8. A União Europeia representa um espaço económico integrado de 14,5 biliões de euros. As 16 organizações de integração da América Latina representam um PIB de 5,4 trilhões de dólares.

E talvez nessa multiplicidade de organizações esteja a resposta para a falta de integração e controle territorial efetivo das nações que habitam o território que se estende ao sul do Rio Grande.

Na dimensão econômica, a ausência de integração cria severas limitações ao desenvolvimento, pois para se desenvolver como fizeram os países do Sudeste Asiático e Cingapura, é preciso transcender a estreiteza do mercado doméstico, trazendo para o território nacional um elo da cadeia de valor do mercado internacional. Assim, consegue-se eficiência e com ela inovação e emprego. A desintegração prevalece na América Latina tanto entre as economias regionais quanto entre estas e os mercados internacionais. Graças a isso, vivemos há 500 anos em economias paralisadas, incapazes de absorver mão de obra ou gerar empreendimentos geradores de riqueza individual.

Do ponto de vista político, a ausência de integração favorece a perpetuação no poder dos dirigentes das empresas públicas e privadas, o que impede a renovação geracional da liderança e a ascensão social. Isso leva à perpetuação de instituições refratárias à mudança, rígidas e permanentemente desatualizadas. Na medida em que as sociedades avançam, os dissensos sociais e as mobilizações urbanas acabam por criar fragmentação institucional. É assim que aparece a perda de controle sobre o território e as portas começam a se abrir para atores não estatais de orientação perversa como o crime organizado transnacional. A fragmentação institucional impede a concentração de recursos em um objetivo fundamental para os tempos modernos: o controle do território para impedir a penetração do crime organizado transnacional.

No entanto, nos 100 pontos que compõem a declaração da CELAC em Buenos Aires, esse cenário real e perigoso não é mencionado. Eles preferem colecionar slogans ultrapassados ​​dos anos setenta do século passado, enquanto um grupo de narcoregimes governados pelas armas políticas do crime organizado transnacional se disfarça de revolução. E ainda que esses regimes sejam hoje uma minoria, sua evolução indica que estão englobando muitos governos do Caribe e da América Central do Sul cuja gravitação na CELAC favorece sua expansão. Talvez tenha chegado a hora de enfrentar este processo metastático, acabando com o número de instituições de integração regional e iniciando a regionalização da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, como aparentemente a Dra. Patricia Bullrich está tentando e graças a isso Buenos Aires não aproveite a visita do chefe do regime venezuelano.


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