Por: Luis Beltrán Guerra G. - 03/08/2025
Em 24 de julho, há 242 anos, Simón Bolívar, o Libertador da Venezuela, Colômbia, Peru, Equador e Bolívia, nasceu em Caracas. Ele recebeu a boa notícia de que Deus lhe havia concedido um encontro com os generais venezuelanos Antonio José de Sucre, Rafael Urdaneta, José Antonio Páez, José Félix Ribas, José María Córdova (colombiano) e Andrés de Santa Cruz (boliviano), seus colaboradores mais próximos. Eles receberam permissão para viajar de seus locais designados. "O convocador" havia entrado no "céu" em 17 de dezembro de 1830, diretamente da Quinta San Pedro Alejandrina, em Santa Marta. O evento foi coordenado pelos Papas João Paulo II, que o presidiu, Bento XVI e Jorge Bergoglio "Francisco".
Estamos reunidos, afirma Bolívar, para analisar as razões pelas quais: 1. Conquistamos a independência da "Pátria Mãe", 2. Determinar se agimos racionalmente em uma tarefa tão complexa, e 3. Quais razões impediram a concretização dos objetivos que nos propusemos. Pois os países libertados se legitimaram como repúblicas e, alguns séculos depois, estavam dispostos a abraçar a democracia. Propus ao "Senhor" que me fosse permitido retornar àquelas terras para analisar nossos possíveis erros e corrigi-los.
Ouve-se José Antonio Páez dizendo: "esse abraço à democracia, General Bolívar, foi um dos mais vergonhosos, tanto da nossa história quanto da própria humanidade", ao que o Libertador o olha como se chamasse sua atenção, mas deve fazer o mesmo em relação a José Félix Ribas, que, assumindo a posição de "Firme" perante seu superior, explica que, em relação à Venezuela, "tivemos 26 constituições desde 1811". "E outras virão, razão para expressar, admirado Libertador, que a sul-americana foi constituinte da vida eterna", ouve-se dizer o boliviano Andrés de Santa Cruz. Páez, no entanto, reitera o chamado à atenção em sua voz rouca característica: "É absolutamente verdade, foi assim que aconteceu". "Don Simón" parece descontente.
João Paulo II, seguindo um sinal de Bento XVI, decidiu tomar a iniciativa do evento, dando a palavra a Antonio José de Sucre, que expressou sua sincera gratidão ao Libertador por tê-lo distinguido como “o pai de Ayacucho, redentor dos filhos do Sol, por ter derrotado Francisco Pizarro González, pondo fim à ordem política e religiosa que este havia estabelecido” em benefício da conquista da Espanha. Mas, para surpresa de Bolívar, Sucre acrescenta: “Perdoe-me, General Bolívar, mas eu também fui tomado pela incerteza quanto às consequências da liberdade que conquistamos. Muitas vezes me pergunto se estávamos preparados para enfrentar as sérias dificuldades de alcançar a independência.” O Libertador, um pouco menos tenso, responde: “General, o senhor sabe que sempre sonhei que nosso legado — sim, o seu, o meu e o de todos os convocados para esta reunião — fosse sinônimo de unidade, justiça e emancipação para os povos da América Latina.” O que aconteceu? Eu também me pergunto. Não entendemos. Teria acontecido, porventura, que tanto nós como os herdeiros do nosso feito vínhamos ao mundo não para governar, mas sim para sermos governados? Essa percepção decorre das fraquezas que não superamos na gestão dos nossos próprios destinos. Não descarto, meu admirado Marechal Sucre e os Generais Páez, Ribas e Santa Cruz, pois pressenti dúvidas, tanto nas conversas que mantive com figuras importantes a respeito da nossa independência, como durante as lutas para a alcançar, e mesmo nos primórdios da nossa liberdade. Devo admitir que não se descartava que, para uma maior estabilidade política e progresso social, uma espécie de "cogoverno" com a Espanha fosse o mais ideal. Materialmente, o progresso seria maior e uma realidade mais condizente com o título ainda atribuído à Península Ibérica, ou seja, "a pátria".
O General Rafael Urdaneta, falando como o próprio Bolívar lhe concedeu, embora João Paulo II estivesse presidindo a reunião, para evidenciar a personalidade única do Libertador, elogiou Urdaneta, lembrando-lhe que ele foi Presidente da Grã-Colômbia e um distinto soldado nas batalhas de Niquitao e Taguanes. O orador expressou que não seria grave negar as dificuldades que nos sobrevieram, depois de termos conquistado a soberania para os nossos cinco países. Para mim, este é um dos temas mais prolíficos, primeiro após a independência e depois ao longo dos séculos neste outro mundo onde hoje estamos reunidos. Nossas representações perante Deus receberam como resposta o "silêncio", ao qual às vezes pensamos em pedir-Lhe perdão pela nossa audácia, pois, com a anexação das Américas, a Espanha seria hoje um gigante, e nós, talvez, teríamos um reconhecimento mais decisivo quanto ao nosso papel de libertadores.
João Paulo II passa a palavra a Jorge Mario Bergoglio, o "Papa Francisco", que a solicita há algum tempo. Mas antes de começar, o general colombiano José María Córdova, ao apresentar o livro "História da Loucura na Época Clássica", de Michael Foucault, pede desculpas e passa a identificar, em relação à categorização das pessoas vítimas de "desordem espiritual", entre elas, "o alegrador inveterado, o homem mais litigioso, o mais astuto e enganador, aquele que passa noites e dias ensurdecendo os outros com suas canções e horríveis blasfêmias, o caluniador, o grande mentiroso e aquele de espírito inquieto, depressivo e obscuro". O referido general, como se apelasse à razão prática, levanta a questão de quem devemos situar nas referidas categorizações, isto é, os conquistadores ou aqueles inspirados pelo senso de liberdade, que assumem a urgente tarefa de alcançá-la e de nos governarmos autonomamente. Que Deus permita que o Papa Francisco, com seus dons de teólogo e filósofo, aborde este tema. Jorge Mario Bergoglio, com certa ironia, refere-se aos "homens de pouca fé", ou seja, àqueles que não estavam convencidos de que "Deus é o Todo-Poderoso, o Criador, o Justo e Misericordioso, e Aquele que nos ama". Lemos que os discípulos se perguntavam: "Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?". Crer é um ato autenticamente humano, não contrário à inteligência ou à liberdade humanas. "A fé é uma graça", acrescenta Francisco. Na minha opinião, durante a Guerra da Independência, temos certeza de que, nas batalhas travadas em busca da independência, nem todos se aproximavam do inimigo com a convicção de que Deus inclinaria a balança a favor da causa justa; alguns, ao contrário, não sabiam por que estavam lutando. Com sua permissão, extraí algumas considerações do livro recente de Javier Cercas, "El loco de Dios en el fin del mundo" (2025), referindo-me, entre outros tópicos teológicos, às minhas visões sobre Deus, a Igreja, a fé e a humildade. Em relação a esta última, a maneira como concluí meus discursos: "Não se esqueçam de rezar por mim". Sou creditado por ter uma consciência muito clara de que ninguém é autossuficiente; todos somos fracos, todos somos pecadores, todos precisamos da ajuda dos outros e, acima de tudo, de Deus. Também parece intuir-se nestas páginas que o Papa argentino não se contenta com a noção de que o padre está acima dos fiéis (clericalismo). Ao pedir que rezem por ele, ele equivale a admitir que é, como todos os outros, "um pecador". Sou até equiparado, afirma Jorge Mario, sem ter méritos, a João XXIII, "um cristão sentado na cátedra de São Pedro". No evento muito interessante para o qual fui convidado, a questão da fé parece estar dividida em duas fases: uma plenamente manifestada durante a guerra e quase inexistente após o seu término. Em particular, nas poucas conquistas políticas,como econômicas e sociais, resultantes de nossos governos, afetados pela gestão medíocre da "arte e ciência de governar" — isto é, da "política".
Não houve sinal de cansaço no evento, apesar da aridez dos temas discutidos e das três longas horas que se passaram. Ouvimos Joseph Ratzinger, Bento XVI, expressar que Simón Bolívar deveria ter o direito à palavra. Bolívar afirma imediatamente que "fez tudo durante a luta pela independência e muito mais para que as nações libertadas da Espanha se tornassem verdadeiras nações, isto é, livres, democráticas e prósperas". Uma luta em duas etapas, uma subsequente à outra. Qual foi a mais complexa? Embora possa surpreender, na minha humilde opinião, a segunda. E por uma razão simples, a primeira terminou felizmente. Nos tornamos independentes. A subsequente ainda está em andamento, e o mais preocupante "tem um longo caminho a percorrer". As constituições foram úteis? Nossa resposta é negativa. A constituinte filosófica, teológica, literária, teórica, aventureira, enganosa e até emergente. Nós, sul-americanos, tivemos 86 constituições (9 na Colômbia, 12 no Peru, 20 no Equador, 19 na Bolívia e 26 na Venezuela). E aquelas que ainda estão por vir.
Ouvimos dizer que a filosofia é "uma ciência em que o fazer e o saber usar o que se faz coincidem", o que significa: 1. Seria inútil possuir a erudição para transformar pedras em ouro se não soubéssemos como usar esse metal precioso; e 2. E, no mesmo sentido, uma ciência que nos tornasse imortais seria inútil se não aprendêssemos sobre a imortalidade. À luz de ambas as conjecturas, nos referiríamos ao "constituinte filosófico". O resto da tipologia, pior?
Uma avaliação final poderia ser feita nestes termos: “A equação entre fazer e saber usar o que foi feito” parece ter sido notória pela sua ausência.
Simón Bolívar estará em paz em seu túmulo?
Parece que não!
O leitor que, por cortesia, nos ajuda a decifrar questões tão complicadas.
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