Sete milhões sequestrados por um casamento criminoso

Carlos Alberto Montaner

Por: Carlos Alberto Montaner - 01/01/2023


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Este será o último artigo deste ano de 2022. Mas o tema será muito importante em 2023. Tem a ver com vários milhões de pessoas. Com quase sete milhões de seres humanos sequestrados por um casamento criminoso. Refiro-me à Nicarágua e ao casal presidencial Daniel Ortega e sua vice-presidente e esposa, Rosario Murillo.

Costumo ler a prosa objetiva de Carlos Fernando Chamorro. Por meio dele soube que entre os 235 presos políticos, absolutamente inocentes, há 4 que levam esse sobrenome mágico: seus irmãos Cristiana e Pedro Joaquín, e os primos Sebastian e Juan Lorenzo Holman Chamorro.

Seu ancestral, Fruto Chamorro, no século 19, foi um dos primeiros presidentes da nação nicaraguense, embora tenha nascido na Guatemala de pais nicaraguenses. (Naquela época buscava-se a unidade de todo o istmo).

Por que essas 235 pessoas estão presas? Porque qualquer um deles pode derrotar Ortega em uma eleição livre. E mais ainda no caso de um Chamorro, que é a garantia da honestidade na administração e da democracia na transmissão da autoridade.

Daniel Ortega já passou por isso. Doña Violeta Barrios, viúva de Chamorro, foi presidente da Nicarágua entre 1990 e 1997. (Ela foi ajudada a governar por Antonio Lacayo, marido de Cristiana, que morreu tragicamente antes de seu tempo). Ele venceu Daniel Ortega por 54% dos votos contra 40% da frente sandinista. O restante, até 100%, foi dividido em uma sopa de letrinhas. Hoje Dona Violeta está acamada, vítima do mal de Alzheimer.

Daí o adjetivo "mágico" que uso. O ex-diretor do La Prensa e feroz opositor da família Somoza, Pedro Joaquín Chamorro Cardenal, morreu pouco antes de Tachito fugir do país derrotado pela guerrilha no verão de 1979. Caso contrário, o chefe, o presidente ou o chefe da a oposição, teria sido ele.

Alguns dados para julgar o sandinismo atual: com seis milhões e setecentas mil pessoas, das quais 400.000 fugiram do país e se refugiaram na Costa Rica, enquanto o dobro o fizeram nos Estados Unidos, totalizando mais de um milhão habitantes (censo dos EUA de 2020).

Hoje, muitos deles têm cidadania costa-riquenha ou norte-americana. Eles começaram a namorar na década de 1980, quando fazia algum sentido ser comunista. Apenas a Coréia do Norte e Cuba são comunistas e é assim que funciona. A URSS não existe mais e a China e o Vietnã deixaram de ser comunistas. As três nações são ditaduras, mas estão longe de estarem sujeitas ao catecismo marxista. São monstruosidades bastante fascistóides com devoção ao Estado e ao caudilho que manda.

Milhares de nicaraguenses pediram asilo político nos EUA, apenas nos últimos dois anos, quando Daniel Ortega e Rosario Murillo se tornaram açougueiros mandando as milícias matarem 355 pessoas, quase todas jovens estudantes, embora o governo “só” reconheça 200. A vantagem (que é uma desvantagem para Ortega e Murillo) nestes tempos é que os governos não podem se esconder de um massacre desse tamanho.

Quantas semanas se passarão até que alguns responsáveis ​​exija que o estranho casal responsável por Manágua enfrente seu destino? Não há "obrigação de obedecer ordens". E não existe, porque não há guerra e os militares foram causar baixas entre uma população desarmada. A única maneira de esses funcionários evitarem a culpa é invocando o precedente de Ceaucescu e sua esposa Elena. Ninguém foi preso na Romênia por realizar um julgamento e atirar nos perpetradores de tantos ultrajes e crimes.

Muitos governos chegariam a dar asilo às 235 pessoas a que alude Carlos Fernando Chamorro. Nada estaria mais em sintonia com os tempos. Liberdade para os presos políticos da Nicarágua!


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