Será que a democracia americana sobreviverá à manipulação de distritos eleitorais?

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 18/11/2025


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Quando a sessão do Congresso Continental que redigiu a Declaração de Independência e a Constituição dos Estados Unidos terminou, repórteres cercaram Benjamin Franklin, perguntando-lhe o que havia acontecido. Franklin respondeu: "Construímos uma república. Espero que possamos mantê-la."

Duzentos e quarenta e nove anos depois, parece que a classe política americana está determinada a submeter a criação de Franklin e dos demais Pais Fundadores a um teste de resistência que bem poderá destruí-la. Esse teste de resistência é conhecido nos Estados Unidos como gerrymandering. O termo foi cunhado em 1812, quando o governador de Massachusetts, Eldridge Gerry, criou um distrito com o formato de uma salamandra. O distrito foi apelidado de "gerrymander" pela imprensa.

Hoje, a prática de redesenhar os distritos eleitorais ocorre a cada dez anos. Isso se deve ao fato de que, com base nos resultados do censo, é necessário ampliar ou reduzir os distritos de acordo com o crescimento ou declínio populacional. Mas, por aproximadamente 30 anos, a liderança política dos partidos Democrata e Republicano vem implementando esse mandato de redistribuição territorial utilizando critérios partidários. Esses critérios permitem fragmentar o eleitorado em grupos opostos e/ou concentrar eleitores em uma área específica para impedir que pessoas de outras tendências políticas sejam eleitas. Essas práticas, conhecidas como "packing" e "cracking", constituem uma intervenção contra a democracia que pode enfraquecer gravemente a república.

De fato, a "manipulação" consiste em concentrar os eleitores de um partido opositor em um único distrito, de modo que vençam nesse distrito por uma ampla margem, mas tenham pouca influência nos distritos vizinhos. A "fragmentação" consiste em dividir um grupo de eleitores por vários distritos, de modo que sejam minoria em cada distrito, impedindo-os de eleger seu candidato preferido. Ambas as táticas tornam as eleições menos competitivas, fortalecem um partido político e limitam o poder de voto de certas comunidades.

Os resultados dessas práticas são evidentes. Eleições que não refletem a vontade geral dos eleitores, o que pode levar a resultados legislativos tendenciosos, menor participação eleitoral e uma sensação de perda de soberania. Mas o pior impacto do gerrymandering...

Mas, graças a essa prática, a população começa a se retrair, mergulhando em uma muralha de descrença e um manto de cinismo. Há uma perda de respeito entre os cidadãos pelos processos eleitorais e pelas políticas emanadas de representantes eleitos sob os preceitos dessa prática. Consequentemente, eles se desmobilizam politicamente e retiram seu apoio a instituições democráticas fundamentais, como assembleias legislativas, o Congresso, juízes e o presidente.

O impacto líquido são eleições que não refletem a vontade geral dos eleitores, resultados legislativos tendenciosos, menor participação eleitoral e uma sensação de impotência. Isso afasta ainda mais o povo americano do lema fundador "Et Pluribus Unum", que significa "Muitos, Um", idealizado pelos Pais Fundadores, incluindo Franklin. E esse distanciamento, criado pelo gerrymandering, está conduzindo o povo americano por um caminho que pode gerar divisões.


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