
Por: Carlos Sánchez Berzaín - 15/12/2025
A interdependência entre os Estados Unidos e a América Latina é essencial e inevitável, e aqueles que incentivam o confronto com retórica anti-imperialista o fazem para proteger os crimes de ditaduras regionais e a penetração extra-hemisférica. Este século é marcado pela retirada dos Estados Unidos da América Latina e pela cessão de terreno a criminosos que suplantam a política, mas a "Estratégia de Segurança Nacional" e as ações concretas mostram que os Estados Unidos estão de volta como um parceiro que impõe limites.
A relação histórica entre a América Latina e os Estados Unidos tem sido, no mínimo, variável e turbulenta. Após o fim da Guerra Fria, a Primeira Cúpula das Américas, em 1994, inaugurou uma política de complementaridade e integração baseada em interesses, princípios e valores compartilhados, como liberdade, democracia, livre mercado, combate ao narcotráfico, desenvolvimento sustentável, livre comércio e outros.
A Primeira Cúpula das Américas, como resultado da "política externa de Estado" formulada pelo presidente George Bush (republicano) e implementada pelo presidente Bill Clinton (democrata), levou à "Carta Democrática Interamericana", a sucessos extraordinários na luta contra o narcotráfico na Colômbia, Bolívia e Peru (os principais produtores de coca e cocaína), a acordos de livre comércio e à crença de que o século XXI seria um século de plena democracia com o fim da única ditadura, que era a de Cuba.
Em 11 de setembro de 2001, no mesmo dia em que a Carta Democrática Interamericana foi assinada em Lima, no Peru, ocorreram os atentados terroristas contra os Estados Unidos. Não foram os atos terroristas em si que prejudicaram o processo de integração e fortalecimento democrático nas Américas; foi a reação a esses atos que marcou o abandono súbito e progressivo da América Latina pelos Estados Unidos, que concentraram seus esforços nas guerras contra o “terrorismo islâmico”. Da retirada de acordos estratégicos com os países latino-americanos, passamos à falta de compreensão dos projetos de Hugo Chávez, Fidel Castro e Lula da Silva.
A história dos primeiros 25 anos deste século nas Américas é a crônica da tomada do poder político pela mais antiga organização criminosa da região, a ditadura cubana, que, resgatada por Hugo Chávez em 1999, assumiu o controle do projeto populista bolivariano para transformá-lo na expansão de seu modelo criminoso/ditatorial na Venezuela com Maduro, na Nicarágua com Ortega/Murillo, na Bolívia com Morales/Arce e no Equador com Correa, conseguindo também instalar governos quase ditatoriais no México com López Obrador/Sheinbaum, no Brasil com Lula, na Colômbia com Petro, no Chile com Boric e em Honduras com Castro.
O momento de maior sucesso para o crime organizado latino-americano foi, sem dúvida, a Cúpula das Américas no Panamá, em 2015, quando o ditador Raúl Castro foi reconhecido como líder regional pelo presidente Barack Obama, o que posteriormente possibilitou o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os EUA.
Enquanto o crime organizado transnacional assumia o status de autoridade internacional, criando e buscando controlar organizações internacionais com as ditaduras de Cuba, Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, ele abriu a região para a China, a Rússia, o Irã e o terrorismo internacional. Atacou os Estados Unidos e as democracias das Américas com táticas de “guerra híbrida”, incluindo migração forçada, narcotráfico, terrorismo, tráfico de pessoas, infiltração por meio do crime comum, manipulação interna, notícias falsas, financiamento de campanhas e muito mais, empregando a “negação plausível”.
A narrativa anti-imperialista e os argumentos anacrônicos da Guerra Fria serviram de pretexto para simular um confronto ideológico entre esquerda e direita, quando na realidade se trata de um ataque do crime organizado contra a democracia, com efeitos devastadores nos Estados Unidos, Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Panamá, Brasil, México, El Salvador, Equador e outros países assolados pela migração forçada, pelo aumento do crime transnacional, pelo narcotráfico, pela insegurança e pela erosão de seus sistemas democráticos. Esse cenário de terror chegará ao fim porque os Estados Unidos, ao salvaguardarem sua “segurança nacional”, identificaram a agressão perpetrada pelas ditaduras socialistas do século XXI que operam como grupos criminosos. O “Cartel dos Sóis”, na Venezuela, é o mais notório identificado até o momento.
As ações dos últimos meses que modificaram sua política externa e alteraram a geopolítica regional são explicadas na "Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos", que, com o "Corolário Trump à Doutrina Monroe", marca o retorno da maior potência mundial à América Latina, estabelecendo o objetivo da erradicação do crime no poder político e traçando uma linha divisória.
*Advogado e Cientista Político. Diretor do Instituto Interamericano para a Democracia.
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