Os BRICS: de clube de investimentos a arma geopolítica

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 12/09/2023


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Quando Jim O'Neill, na época economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, cunhou o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), ele estava pensando em facilitar a compreensão dos impulsionadores da mudança na economia global por parte dos banqueiros. ., economistas e interessados ​​em finanças. Para ele era importante identificar estes novos e crescentes motores do crescimento global, a fim de desenvolver políticas que promovessem a sua consolidação como economias emergentes e a entrada e utilização do quadro institucional criado depois de 1945. Ele estava longe de pensar que a categoria iria ser usado como arma política para enfraquecer os Estados Unidos.

Mas a Rússia viu aí a sua oportunidade de criar uma coligação de ingênuos para começar a desafiar os Estados Unidos e a China pela liderança mundial. A diplomacia russa foi totalmente mobilizada para criar laços económicos condicionantes com os membros do bloco que se formou como um clube de nações em 2009. Os fertilizantes russos deslocaram os americanos e europeus e penetraram na agricultura brasileira. Para a Índia, o pacote de conquista foi de natureza energética e tecnológica, uma vez que a Rússia se tornou o principal fornecedor de combustíveis fósseis e a Índia se tornou o principal fornecedor de serviços de engenharia para a Rússia. Com a China houve parcimónia porque aquela nação tem uma visão muito clara do mapa geopolítico mundial e a Rússia pode ser um aliado temporário mas será sempre um rival na Ásia Central. A entrada da África do Sul abriu uma nova porta ao desenho geopolítico de Vladimir Putin. E com o passar do tempo a matriz económica desenhada por aqueles que pretendem reconstruir o império russo. Serviu para criar laços de dependência com todos os membros do clube, exceto a China.

Os caprichos da lenta recuperação económica global após a crise financeira de 2008 e a COVID 19, bem como as mudanças políticas dentro da coligação, abrandaram o ímpeto de Putin. No Brasil, Jair Bolsonaro subiu ao poder, cuja antipatia por qualquer coisa que cheire a comunismo é notória. Na África do Sul, o pró-Rússia Jacob Zuma foi sucedido por Cyril Ramaphosa, um líder sindical que se tornou empresário de sucesso. Na Índia, Mammoham Singh, um proeminente pensador, internacionalista, acadêmico e economista do desenvolvimento próximo dos círculos de poder ocidentais, deu lugar a Narendra Modi, um político faccionalista com profundo sentimento nacionalista e defensor de tornar a Índia não apenas uma potência, mas um país onde o hinduísmo prevalece. r Na China, estava em ascensão o XI Ji Ping, cuja visão da China não dá origem a uma liderança substituta.

O plano de Putin teve de ser abrandado. Mas para 20021, com a invasão da Ucrânia ao virar da esquina, teve de ser relançado. E Lula chegou ao poder no Brasil que, como todo bom latino-americano, culpa os Estados Unidos pelos seus erros e, portanto, fará o que puder para enfraquecer esse país. O plano de Putin encontrou o padrinho ideal.

Trata-se agora de usar os BRICS para enfraquecer os Estados Unidos, substituindo o dólar por qualquer outra moeda de reserva internacional, ou melhor ainda, por uma criptomoeda que ninguém regula ou sabe como ou quem a emite. Os inimigos jurados dos Estados Unidos, como a Venezuela, estão sendo convidados para o clube através de Lula, outros virão em breve, como a Coreia do Norte, Cuba, Mianmar e as sangrentas ditaduras da África.

Em resumo, a categoria criada para promover o desenvolvimento de um conjunto de economias que representam 40% do produto bruto mundial tornou-se, por desígnio de um autocrata russo e com a colaboração do presidente do Brasil, um instrumento para enfraquecer os Estados Unidos Estados sem reparação que estão a enfraquecer o país que faz parte da força vital do crescimento interno e que facilita as transações comerciais que permitem a todos esses países, exceto a Rússia, aceder à economia digital de uma forma massiva e democrática. Para ver o efeito bumerangue que esta iniciativa russa poderia ter, basta viajar até Bangalore e observar as credenciais académicas e profissionais dos empreendedores tecnológicos indianos. Todos estudaram nos Estados Unidos e realizaram estágios em empresas do Vale do Silício. No caso da África do Sul, o investimento privado directo mais significativo vem de Inglaterra, França, Holanda e Estados Unidos. O Brasil estaria bem abaixo do nível de crescimento em que se encontra hoje se Nicholas Brady não tivesse reestruturado a sua dívida no início da década de 1990. Hoje, o segundo maior investidor privado direto são os Estados Unidos, depois dos Países Baixos.


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