Ódio dos ricos, amor do bandido

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 04/02/2024

Colunista convidado.
Compartilhar:    Share in whatsapp

Hate the Rich é o livro mais recente do pensador libertário Axel Kaiser. A obra, escrita com caneta afiada, descreve o comportamento da economia chilena após as medidas tributárias aplicadas por Michel Bachelet em seus dois governos.

Em 2014, Bachelet voltou ao poder sob o discurso de varrer completamente o que restava do modelo neoliberal. Obviamente, este plano baseava-se num pilar muito maligno: impostos progressivos sobre património líquido elevado.

A máquina publicitária de Bachelet se encarregou de implantar uma narrativa contra os ricos, a quem ela acusou de serem egoístas e antipatrióticos; exaltar ânimos e animosidades contra aqueles que se opuseram à reforma tributária; de promessas vazias sobre a melhoria da vida das classes populares e de mentiras sobre os efeitos que as suas políticas teriam na economia. Obviamente não poderiam faltar ofertas “gratuitas” de saúde e educação.

No entanto, como sempre acontece em todas as experiências de redistribuição da riqueza, o Chile entrou numa década com baixo crescimento económico e, paradoxalmente, com maior aumento da pobreza. A este respeito, os economistas Gonzalo Sanhueza e Arturo Claro, citados na obra de Kaiser, afirmam o seguinte:

Entre 2004 e 2013, o crescimento médio do PIB real foi de 4,8% e o PIB per capita aumentou 3,7%. De 2014 a 2023, por outro lado, o crescimento da economia tem sido de escassos 1,9% em média anual e, se ajustado ao crescimento populacional, cai para 0,6% per capita ao ano. Se entre 2004 e 2013 foram criados em média 206 mil empregos por ano, entre 2014 e 2023 apenas foram criados anualmente 93 mil empregos. O investimento, que cresceu cerca de 10% ao ano entre 2003 e 2014, cresceu apenas 0,8% real ao ano na década seguinte ao aumento dos impostos. Ao mesmo tempo, os salários reais, que cresceram em média 2,45% ao ano no primeiro período, cresceram apenas 1,2% na última década.

Contudo, odiar os ricos não se limita exclusivamente à realidade chilena, mas é uma patologia de toda a América Latina. Por exemplo, Victoria Eugenia Henao, viúva de Pablo Escobar, ao narrar o caminho que seu marido seguiu para entrar na política, diz que foi muito fácil convencer os antioquenhos a votarem no patrão. Tudo se resumia a: “Você me dá o seu voto, mas eu lhe darei dinheiro” e “Os ricos são maus, são oligarcas, eu sou de gente como você”.

Porque é que os ricos são alvo de ataque de todos os populistas?

Kaiser identifica uma causa vital: o modelo educacional.

As Ciências Sociais, incluindo a Economia, são ensinadas a partir de uma premissa errada: a desigualdade como problema a resolver. Logicamente, corrigir as desigualdades traduz-se na utilização da política fiscal para tirar de uns e dar a outros, na distribuição dos excedentes em partes equitativas para toda a sociedade.

Porém, como diz meu professor Alberto Benegas Lynch, todos aqueles que propõem a redistribuição da riqueza falam sempre da herança dos outros, nunca da sua. Da mesma forma, esquecem um grande detalhe, a riqueza não é um valor fixo, mas é criada constantemente no mercado. Finalmente, qualquer ato redistributivo do Estado só pode ser feito pela força, violando um princípio básico da convivência saudável: a igualdade perante a lei.

Com razão, Jesús Huerta de Soto define o socialismo como um sistema de agressão institucional contra o livre exercício da actividade empresarial, como um vírus letal capaz de destruir a civilização. Ou, como advertiu Friedrich August von Hayek no início da década de 1940, as medidas socialistas só podem ser implementadas com a ajuda do submundo e do crime.

Para encerrar, uma pequena reflexão.

Muitas pessoas fartas do socialismo do século XXI procuram um salvador ao estilo de Javier Milei. Mas a saída não passa por aí, mas sim por uma revolução na mente, uma metanóia. Devemos começar por compreender que nem a saúde nem a educação são direitos, mas sim serviços que têm custos operacionais e que devem ser pagos por quem os utiliza. Não se trata de pedir aos ricos que paguem mais impostos, mas sim de lutar por menos impostos para todos, que é a única forma de construir economias mais competitivas. Trata-se de compreender plenamente o mandamento cristão de não cobiçar os bens alheios.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.