Por: Carlos Sánchez Berzaín - 26/08/2025
O socialismo do século XXI conseguiu se estabelecer na Bolívia sob o disfarce da democracia. Sem quaisquer elementos essenciais da democracia, apresentou a Bolívia como um novo Estado plurinacional e um modelo econômico até que a realidade expôs a ditadura/narcoestado, um satélite de Cuba e Venezuela, com uma explosão de pobreza e impunidade. O presidente eleito no segundo turno determinará o futuro da Bolívia, seja mantendo seu sistema ditatorial de crime organizado ou restaurando a Constituição da República.
O eixo de confronto no segundo turno das eleições na Bolívia é CONTINUIDADE, mais do mesmo, versus MUDANÇA DE SISTEMA, com a restauração da República e da Democracia.
CONTINUIDADE é manter o país no sistema imposto pela chamada "constituição do Estado plurinacional" que, baseada em uma longa cadeia de crimes, falsificações e massacres, foi o instrumento para que o socialismo do século XXI, com seu operador Evo Morales, suplantasse a República, ocupando os poderes públicos (Supremo Tribunal de Justiça, Tribunal Constitucional, Ministério Público, Tribunal Nacional Eleitoral, Defensoria do Povo...) conforme sua conveniência, destruindo a "separação e independência dos órgãos do poder público".
A constituição plurinacional mantém o crime organizado no poder, institucionaliza a ditadura/narcoestado na Bolívia e atualmente tem mais de 320 presos políticos e 27.000 exilados.
Mudar o sistema significa restaurar a democracia e a República, restaurando o status legal, constitucional e democrático anterior à substituição constitucional. Isso envolve declarar em vigor a Constituição da República da Bolívia de 1994, extinguir imediatamente os órgãos e poderes designados no âmbito da fracassada Constituição plurinacional e exigir que os poderes Executivo e Legislativo nomeiem o Supremo Tribunal de Justiça da Nação, o Tribunal Constitucional, o Procurador-Geral da Nação, o Conselho Judicial, o Defensor Público, o Tribunal Nacional Eleitoral e todos os órgãos democráticos, em conformidade com a Constituição de 1994. O aparato ditatorial é desmantelado.
A declaração de validade da Constituição Política da República da Bolívia de 1994 é uma obrigação do novo Presidente da Bolívia no primeiro momento de seu mandato. Ela se baseia no Artigo 31 da Constituição de 1994, que estabelece: "São nulos os atos de quem usurpar funções de sua jurisdição, bem como os atos de quem exercer jurisdição ou autoridade não derivada de lei."
Não é um direito de pedir ou exigir a anulação; é uma norma imperativa e dispositiva que estabelece a anulação, e o novo Presidente é obrigado a cumpri-la.
O iter criminis da chamada Constituição Plurinacional abrange crimes flagrantes e públicos que não podem ficar impunes, a menos que haja cumplicidade e encobrimento por parte do novo governo. Um breve resumo comprova:
1. A Lei de Reforma Constitucional 2.650, de 13 de abril de 2004, substitui o artigo 232, introduzindo uma "reforma constitucional total", que não estava prevista na Lei de Reforma Constitucional e que inclui a "assembleia constituinte", expressamente proibida pela Constituição da República. Essa falsificação material e ideológica dá origem à utilização de um instrumento falsificado de convocação de uma Assembleia Constituinte, por meio da lei de 6 de março de 2006, de Evo Morales.
2.- A Assembleia Constituinte que se encontrava em sessão em Sucre - repudiada pelo povo - foi transferida para um quartel militar em Oruro, de onde enviou o texto da "proposta de constituição" que não continha a reeleição contínua nem o alcance do estado plurinacional, o que deu origem à Lei 3941 de 21 de outubro de 2008, pela qual o Congresso Ordinário "assume os direitos do povo" e modifica a lei de reforma constitucional 2650 (já falsificada) ao estabelecer que "Uma vez concluído o processo constituinte e recebida a proposta constitucional, para ser submetida à consideração do povo soberano, o Congresso Nacional poderá fazer os ajustes necessários em função da vontade popular do interesse nacional, por lei especial do Congresso, aprovada por dois terços dos votos dos seus membros presentes", de modo que a constituição plurinacional não seja a apresentada pela assembleia constituinte.
3. Para impor a Constituição plurinacional contra a defesa dos cidadãos, Evo Morales perpetrou os massacres de La Calancha, El Porvenir, Cochabamba, Hotel Las Américas e outros. O massacre do Hotel Las Américas foi denunciado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Caso 13.546), que estabelece a responsabilidade de Morales e seu regime pelos assassinatos. Mais presos políticos e exilados resultaram da perseguição desencadeada para impor a Constituição plurinacional, uma cópia das de Cuba, Venezuela e Nicarágua, que se tentou impor no Chile, onde foi rejeitada.
*Advogado e Cientista Político. Diretor do Instituto Interamericano para a Democracia
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