
Por: Hugo Marcelo Balderrama - 01/12/2025
Colunista convidado.A crise econômica na Bolívia trouxe novamente a terapia de choque para o centro do debate público. Especialistas da mídia e comentaristas pagos do socialismo do século XXI retratam as políticas de terapia de choque como se fossem monstruosas. Frases como "beneficia os ricos", "nos despojaram de nossos direitos" e "vão nos matar de fome" inundam as redes sociais e os noticiários.
Na verdade, a estratégia de demonização foi bem-sucedida, já que todos os planos econômicos evitam mencionar a terapia de choque. Em vez disso, preferem o caminho arriscado e ineficiente do gradualismo.
Surge então uma questão: o que é choque?
Para responder à pergunta, é necessário esclarecer um conceito anterior: liberdade.
Em seu brilhante livro *A Constituição da Liberdade*, Friedrich Hayek explica que a liberdade é a ausência de coerção. Ou seja, somos livres quando ninguém nos impede de escolher nosso modo de vida. Obviamente, nossas escolhas não devem infringir os direitos dos outros; por exemplo, não posso invadir a propriedade de alguém ou tomar à força os pertences do meu vizinho. A política é a preservação dessa ordem social, visto que a função primordial do Estado é salvaguardar a vida, a propriedade e a liberdade de seus cidadãos.
O monopólio do Estado sobre a coerção cria outro perigo: o de que a entidade destinada a proteger a liberdade dos cidadãos se torne sua principal opressora. É por isso que pensadores como Karl Loewenstein, um dos maiores teóricos do constitucionalismo moderno, alertaram que, sem estruturas constitucionais e institucionais, os Estados se transformariam de guardiões da liberdade em seus opressores. Daí sua insistência em conceber mecanismos nas constituições que protejam, primordialmente, os indivíduos de seus governos.
Contudo, ao longo dos últimos vinte anos, o Movimento Socialista, emulando o estilo ditatorial cubano, concebeu um modelo que concentrava tudo nas mãos do líder. Liberdades políticas, econômicas, educacionais, religiosas e muitas outras foram cerceadas por meio de impostos, regulamentações e burocracia excessiva. O mecanismo utilizado para atacar nossa liberdade foi a Assembleia Constituinte e as regulamentações ditatoriais dela originadas. A esse respeito, Gustavo Coronel, em seu artigo "A Nova Constituição Boliviana", afirma:
A nova Constituição da Bolívia é um documento de pungente beleza, uma espécie de curiosidade antropológica do século XXI. Representa uma tentativa compreensível de restituir à população indígena os direitos e a presença na vida do país que lhes foram retirados ou negados durante anos de história turbulenta. Em geral, porém, seus autores oscilaram o pêndulo com tanta força que levaram o documento ao extremo oposto, tornando-o quase racista, excludente e discriminatório contra setores significativos da população, além da população indígena. Este documento, com suas inegáveis boas intenções, parece consagrar a natureza tribal e federal de uma nação que ainda não encontrou uma identidade coletiva sólida.
Acho que agora está claro que a Bolívia foi uma experiência castro-chavista para expandir seu modelo ditatorial. Portanto, se a ditadura sequestrou nossas liberdades, o verdadeiro choque, além das tecnicalidades econômicas, é devolver essas liberdades aos cidadãos. Trata-se de garantir que, ao abrirmos empresas, não tenhamos a bota da burocracia em nossos pescoços, muito menos o apetite voraz do sistema por impostos. O gradualismo está fadado ao fracasso por dois motivos: 1) pressupõe que o sequestro deva ser encerrado aos poucos e 2) exige muito dinheiro, que o país não tem.
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