O carnaval da ditadura boliviana

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 18/02/2024

Colunista convidado.
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Enquanto a população boliviana perdia a cabeça na embriaguez e na confusão do carnaval, que dura de janeiro a abril, a Fitch Ratings, no início de fevereiro, rebaixou a classificação de inadimplência do emissor de moeda estrangeira da Bolívia de B- para CCC.

A agência de classificação argumentou que o Déficit Fiscal (acumulado há uma década), a queda nas exportações de gás, a redução significativa das Reservas Internacionais Líquidas e o crescimento constante da dívida pública são os principais indicadores que colocam a economia boliviana em situação de alto risco. O relatório, literalmente, afirma:

A Bolívia está excluída dos mercados de capitais globais com rendimentos de títulos em 2028 de 24% a partir de janeiro de 2024. O BCB alterou as regras para incentivar a repatriação de ativos estrangeiros por bancos e fundos de investimento, o que poderia ajudar a aliviar as pressões de curto prazo, mas a falta de o ajustamento da política significa que as pressões externas provavelmente continuarão.

Contudo, como é que isto afecta o cidadão comum, que, em muitos casos, não compreende a complicada terminologia económica?

A falta de dólares, consequência da queda das Reservas Internacionais, tem impacto direto na capacidade de importação do país. Ou seja, não ter a moeda norte-americana equivale a fechar o contato comercial com o mundo. Por exemplo, as empresas farmacêuticas bolivianas alertaram que, dada a dificuldade crescente de obtenção de dólares, enfrentam graves complicações no pagamento aos seus fornecedores, o que afectará, e já o está a afectar, o fornecimento de medicamentos. A este respeito, o presidente da Câmara de Indústria, Comércio, Serviços e Turismo de Santa Cruz (Cainco), Jean Pierre Antelo, afirmou que:

Há uma dificuldade de acesso aos dólares. Já temos um câmbio paralelo nas ruas, que ultrapassa os 8,10 bolivianos por dólar. O banco está tendo dificuldades para atender às demandas dos importadores. Há mercadorias que ficam paradas nos portos. Estávamos fazendo uma análise com a equipe econômica e estamos vendo que o país está como era há 20 anos: com um crescimento de 2% do PIB, com bloqueios e com reservas internacionais baixíssimas.

A resposta do governo, fiel ao seu tom autoritário, não foi outra senão anunciar mais controles e punições contra os “especuladores” do dólar.

Dito de forma simples: a Bolívia está desmoronando.

No entanto, não se trata de um desconhecimento dos princípios básicos da economia por parte dos mandões bolivianos, pelo menos não exclusivamente, mas sim de um plano muito bem elaborado pelas mentes macabras que deram origem ao socialismo do século XXI.

No seu livro Socialismo do Século XXI, Heinz Dieterich, que foi conselheiro de Hugo Chávez, argumentou que, para superar a pobreza e a desigualdade, todas as instituições neoliberais e capitalistas devem acabar. Isto teve de ser superado pela “democracia participativa”, a economia planificada centralmente com substituição de importações e a cidadania através da identidade étnica, entendida como indigenismo ou outra versão de racismo.

Por sua vez, Néstor Ceresole, outro assessor direto de Chávez, recomendou o fim da institucionalidade das Forças Armadas dos países para colocá-las a serviço do “povo”, a imposição de uma nova constituição, além de centralizar toda a atividade econômica ... nas mãos do Estado para, nas suas palavras, acabar com a miséria neoliberal.

Como vemos, em teoria, o Socialismo do Século XXI é um reaquecimento das velhas mitologias da esquerda que procuravam substituir o mercado livre pelo planeamento centralizado, mas, na prática, é o crescimento da pobreza, o reinado dos traficantes de droga e , especialmente, o estabelecimento de ditaduras, como a que vivemos na Bolívia.

E não deixe que o seu julgamento seja obscurecido pela disputa entre Evo Morales e Arce Catacora, porque não se trata de uma divisão, mas sim de uma multiplicação para dominar todo o aspecto eleitoral, uma espécie de MAS no partido no poder e MAS na oposição.

Concluindo, ao ritmo da agitação carnavalesca, a ditadura está eliminando espaços de liberdade, democracia e institucionalidade.


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