Por: Pedro Corzo - 16/06/2025
Colunista convidado.Tudo indica que o rígido controle social estabelecido em Cuba pelos irmãos Fidel e Raúl Castro, herdado pelo inepto Miguel Díaz-Canel, está se desintegrando. Embora seja justo dizer que isso não é consequência apenas da coragem da oposição, mas sim da ineficiência crônica de um sistema que acumulou inúmeros fracassos e erros ao longo de 66 anos.
Em conversa telefônica com Guillermo Fariñas –Santa Clara, Cuba, Prêmio Sakharov 2010 e líder do Fórum Unido Antitotalitário (FANTU)–, ele descreveu como, apesar da repressão, que resultou no crescimento constante da população carcerária por razões políticas, os cidadãos estão desenvolvendo uma consciência mais precisa de seus direitos, exigindo da ditadura os espaços que lhes correspondem.
Segundo Fariñas, com base nessas demandas, sua organização estabeleceu uma série de questões cujos ativistas promovem nas linhas que as pessoas são inevitavelmente forçadas a adotar para resolver qualquer situação, especialmente aquelas relacionadas a alimentos e medicamentos. Uma das questões é a promessa não cumprida do regime de Castro de restaurar a Constituição de 1940, que garantia uma sociedade aberta com pleno respeito às prerrogativas dos cidadãos. Ele nos disse que este é um caso praticamente desconhecido para as gerações mais jovens, que estão atoladas em absoluta ignorância do passado.
Outro assunto levantado nas falas e discutido como se fossem conversas casuais é a farsa encarnada por Fidel Castro durante os primeiros meses da insurreição, negando que tivesse a intenção de instaurar um regime comunista, apontando para as pessoas que a ditadura foi instaurada com mentiras e falsas promessas, atmosfera que foi se perpetuando ao longo do tempo.
O líder da oposição, que está categoricamente proibido de viajar para a capital do país, diz que outra questão que os militantes nas linhas estão incitando é a violência, argumentando que a insurreição liderada por Castro recorreu ao terrorismo durante toda a sua administração e que, consequentemente, eles estão moralmente invalidados de questionar qualquer um que recorra à intimidação para atacar o governo, já que o terrorismo não se torna bom só porque promove o socialismo.
Outro aspecto interessante que é contado aos indivíduos nas fileiras como se fosse por acaso é que a grande maioria dos que lutaram contra o castro-comunismo nos anos iniciais da revolução e mesmo depois vieram das fileiras revolucionárias porque foram enganados pela farsa orquestrada pelos Castros para se perpetuarem no governo.
As chamadas Missões Internacionalistas na África são amplamente discutidas, explicando às pessoas que elas não eram atos genuínos de solidariedade, mas sim uma forma de Castro compensar a ajuda econômica e militar vinda da União Soviética, usando os cubanos como "bucha de canhão", enviando-os para lutar naquele continente onde milhares de soldados morreram e outros foram abandonados à mais extrema pobreza.
Duas das maiores mentiras do regime de Castro são o fornecimento gratuito de medicamentos e educação. Ativistas da FANTU apontam que, desde 1962, todos os trabalhadores têm direito a um desconto direto de 11,1% de seus salários líquidos, com base no Decreto-Lei 147/1962. Essa privação também abrange a Previdência Social, condição que não a torna uma dádiva do totalitarismo.
Os privilégios alimentares e de bens recebidos por membros das Forças Armadas e do Ministério do Interior são discutidos nas linhas, além dos motivos que impedem a existência de outros partidos políticos. Acrescentam que a atual crise energética poderia ter sido evitada se, durante o boom chavista na Venezuela, de 2001 a 2016, os vultosos empréstimos financeiros concedidos pelo presidente Hugo Chávez tivessem sido usados para remodelar as estruturas tecnológicas das usinas termelétricas cubanas.
Guillermo Fariñas diz que vários activistas da FANTU estão na prisão por trazerem estas questões à tona nas filas. Estes incluem Oscar Sánchez Madan, coordenador político do Conselho Nacional FANTU e residente no município de Matanzas; Pedro Luis Fernández Peralta, coordenador do FANTU no município de Diez de Octubre, província de Havana; e Amaury Díaz García, coordenador municipal da FANTU na cidade de Sancti Spíritus.
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