Equador: O ponto final

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 16/04/2024


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A noite de 5 de Abril ficará registada na história do mundo como o divisor de águas entre duas épocas: a da permissividade contra o crime organizado e a da luta contra esse flagelo. A partir desse momento, os criminosos serão tratados como tal e as pessoas perseguidas politicamente serão protegidas como tal.

Esta demarcação será seguida de violência devido à reacção de gangues criminosas cujo único objectivo é proteger a cadeia de valor de actos ilícitos, mas também de uma maior mobilização cidadã em apoio ao reforço institucional da região. Porque finalmente um líder deixou claro do que se trata o combate e assumiu total responsabilidade pelos acontecimentos.

Durante muitas décadas, desde a sinistra janela estabelecida no banco central da Colômbia para trocar dólares provenientes de atividades ilícitas sem problemas até a fusão do Estado com o crime organizado perpetrada por Jorge Glas, o processo de penetração das instituições estatais por danos regionais havia continuado sem nenhum pequeno passo. E assim as democracias da região foram engolidas pela morbilidade criminosa, privando pouco a pouco os cidadãos dos serviços de segurança e protecção civil e invadindo depois os serviços de saúde, educação e transportes.

E embora seja verdade que poucos concordam com a forma como foi realizada a operação para extrair Jorge Glas da embaixada mexicana, o mundo hoje está muito claro sobre duas questões: a primeira: não pode haver asilo para criminosos. Em segundo lugar, as democracias têm instrumentos para se defenderem contra a penetração do crime organizado e irão utilizá-los.

Esse avanço, na minha opinião, tem a ver com a chegada de uma nova geração em cargos de gestão. A maioria das novas gerações de líderes latino-americanos são o que poderíamos chamar de cidadãos hemisféricos. Porque muitos concluíram estudos de pós-graduação nos Estados Unidos. Nas universidades norte-americanas encontraram outros estudantes de países diferentes do seu e isso os levou a criar redes na região. Em segundo lugar, estas gerações praticam desportos que as tornam muito mais competitivas do que as suas antecessoras. Finalmente, testemunharam a ascensão e queda dos regimes democráticos da região.

Tudo isso os levou a serem muito mais pragmáticos na tomada de decisões, menos corporativistas e muito mais visionários. E cada um deles está deixando uma marca interessante na região. No Chile, Gabriel Boric conseguiu gerir com sucesso o regresso do país ao centro democrático e o relançamento da economia. Em El Salvador, Nayib Bukele devolveu aos lares a tranquilidade da segurança cidadã e aparentemente uma melhoria notável nos serviços públicos. Na Venezuela, Maria Corina Machado criou uma força cidadã que pela primeira vez abalou o regime criminoso que governa aquela nação. No México, duas mulheres competentes e imaginativas lutam pela presidência numa disputa cujo resultado enterrará o feudalismo opressivo estabelecido pelo PRI e desfrutado por muitos que não ousaram fazê-lo cair. E no Equador, Noboa pôs fim ao laissez faire face ao crime organizado e mostrou o caminho para o combate com instrumentos concedidos pelo Estado de direito.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.