Equador não é Peru, mas também não é Chile

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 24/05/2023


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Além da natural confusão causada pela invocação pelo presidente Guillermo Lasso da norma constitucional popularmente conhecida no Equador como “morte recíproca”, pois embaralha o jogo político ao convocar eleições gerais.

As causas desta decisão residem na presença de um claro movimento desestabilizador encabeçado por opositores do Presidente Lasso que o tem impedido de governar. Assim, decidiu resolver a crise consultando o soberano se deseja elegê-lo e se, ao contrário, prefere outra figura à frente do executivo nacional. Mas o soberano também está sendo questionado se deseja ser representado pelos atuais deputados e senadores.

A decisão de Lasso contrasta com a tomada pelo presidente Pedro Castillo, do Peru, que, violando a constituição peruana, tentou demitir o Congresso e assumir o controle total do Peru. E assim como Lasso sofre sob o jugo dos seguidores do ex-presidente Correa, Dina Boluarte enfrenta diariamente os ataques desestabilizadores dos seguidores de Pedro Castillo. Ambos os países sofrem os ataques de forças radicais cujo objetivo é colocar figuras pró-marxistas nas instâncias de poder para desarmar os andaimes institucionais que impedem o exercício da democracia direta. Inútil para a história mostrar que todas as experiências de democracia direta terminaram na falência econômica e no estabelecimento de regimes despóticos que violaram massivamente os direitos humanos.

A presença desses grupos dificulta ver com otimismo o horizonte político imediato do Equador. Porque não é uma onda de descontentamento de uma sociedade civil organizada como é o caso do Chile. Naquela nação, a sociedade civil iniciou um processo de delimitação do governo e preservação das conquistas dos últimos 33 anos. Não se trata de movimentos radicais ou anárquicos dispostos a tomar o poder, mas sim de um comportamento cívico que, dentro dos canais do estado de direito, decidiu destruir o acordo e fortalecer a democracia.

No Equador, trava-se uma batalha entre a preservação do estado de direito e o estabelecimento de limites aos grupos políticos radicais que querem violá-lo para tomar o poder para sempre e fizeram alianças com as forças obscuras do crime organizado transnacional. Se a democracia prevalecesse no continente, ela seria violada enquanto o crime organizado transnacional teria um novo centro de operações. Algo muito preocupante.


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