
Por: Pedro Corzo - 01/12/2025
Colunista convidado.Deixar o país onde se nasceu implica uma mudança radical de vida que praticamente exige uma reinvenção da pessoa que o faz.
Realizar esse processo em condições adequadas, com os recursos necessários e dentro do quadro legal exigido pelo país de acolhimento é traumático, sendo difícil qualificá-lo quando a decisão é tomada por terceiros, em casos de exílio, ou simplesmente quando o indivíduo é forçado a fugir em busca de refúgio ou de uma vida melhor sem possuir os documentos necessários ou os recursos para contratar um bom escritório de advocacia.
Em suma, o futuro daqueles que fogem, para além do rótulo de fuga, depende das leis do país que os acolhe e do caráter e sensibilidade do funcionário que os processa, que, no âmbito de uma justiça humanista, deve valorizar a tragédia que a pessoa que abandona família e bens em busca de segurança ou de uma vida melhor está a sofrer, aspetos que, na minha humilde opinião, devem ser tidos em conta por quem aplica as leis de imigração.
No entanto, existem outros casos de imigração que devem ser tratados com rigor em busca de maior justiça; refiro-me àqueles que, após servirem a uma tirania, decidem abandoná-la em busca de proteção ou, pior ainda, para desfrutar de ganhos ilícitos.
Refiro-me aos funcionários do castrismo e de qualquer outra ditadura, como a da Nicarágua e da Venezuela, que, tal como o totalitarismo cubano, têm sido hábeis em contratar mercenários que, depois de serem cúmplices diretos ou indiretos de todas as atrocidades desses regimes, os abandonam quando a situação se deteriora ou simplesmente quando um funcionário de escalão superior os olha com desdém.
Esta reflexão é fruto de uma conversa com o escritor José Antonio Albertini a respeito do caso de Jorge Javier Rodríguez Cabrera, que era mensageiro do Ministério das Relações Exteriores de Cuba e fazia parte da aristocracia do totalitarismo de Castro por ter a amizade do principal capanga conhecido como "El Caranguejo", neto e guarda-costas de Raúl Castro, o que facilitava, segundo o jornal local, "ligações com a elite militar cubana".
É preciso levar em conta que prestar serviços de correio diplomático em qualquer país exige muita confiança, e em Cuba, os requisitos para essa posição exigem significativa lealdade política. Além disso, ser funcionário do Ministério das Relações Exteriores requer uma postura "revolucionária", o que implica passividade diante dos abusos cometidos pelas autoridades. Esse é um dos aspectos que José Martí abordou em seus escritos quando afirmou: "Testemunhar um crime com calma é cometê-lo", e qualquer coisa mais criminosa do que o sistema totalitário cubano deve ser examinada com uma lupa eletrônica.
Concluo observando que parto da premissa de que todo Estado tem o direito supremo de proteger suas fronteiras e determinar quem pode ou não entrar em seu território. Um exemplo vergonhoso desse direito foi a recusa dos governos de Cuba, dos Estados Unidos e do Canadá em permitir que o navio San Luis, transportando quase mil judeus fugindo do nazismo, entrasse em seus portos em 1939. Essas pessoas foram forçadas a desembarcar em portos europeus, muitas delas encontrando fins trágicos.
Sou um fervoroso defensor da justiça e da lei, do direito a uma defesa adequada, ao qual os cidadãos cubanos não têm acesso; no entanto, não posso deixar de sentir apreensão com a libertação de uma pessoa com o histórico mencionado, que trabalhou por um período em uma agência governamental que exige lealdade e que praticou espionagem contra este país durante décadas.
Repito, não é justo que aqueles que serviram a uma tirania, seja em Cuba ou em qualquer outro lugar, gozem da justiça cega de uma sociedade democrática simplesmente porque esta possui os recursos para montar uma defesa habilidosa, em detrimento daqueles que nada têm por terem lutado contra o regime que oprimiu seu país, como é o caso dos ativistas de direitos humanos, jornalistas independentes e qualquer pessoa que ame a liberdade e defenda seus direitos sob os regimes castrista-chavistas.
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