Desmantelamento do Estado Plurinacional, o maior desafio para os bolivianos

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 27/03/2023

Colunista convidado.
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Os professores bolivianos protestam contra as grandes deficiências, falácias e sofismas do novo currículo educacional do país. Os actos de corrupção, e mesmo criminosos, evidenciam a desinstitucionalização da Polícia Nacional. Félix Ajpi, senador do MAS, disse à imprensa que os violentos ataques são sinais da força da economia boliviana. Além disso, diante dos constantes questionamentos sobre o modelo econômico, afirmou que a pobreza é uma questão mental, basta que paremos de pensar nela para que ela desapareça.

Como a Bolívia, que havia fechado o século XX com instituições relativamente sólidas e grande potencial energético, chegou a esse ponto constrangedor?

Tudo começou com o colapso da democracia e o golpe de 2003, o que os subversivos chamam de "Guerra do Gás". Vamos ver.

Em 17 de outubro de 2003, depois de ter traído Gonzalo Sánchez de Lozada, Carlos Mesa foi empossado como presidente da República da Bolívia. Embora Mesa tenha definido que seu governo seria um "governo de cidadãos", basicamente, foi um co-governo com Evo Morales. Pois, desde o alvorecer de seu governo, o historiador buscou apaziguar o cocaleiro concedendo-lhe espaços de poder.

Mas, sem dúvida, o Decreto 2.234, que anistiou os desordeiros de setembro e outubro de 2003, foi a norma mais desastrosa da gestão do Mesa. Bem, impediu que todos os membros de gangues, milicianos e terroristas que violaram a ordem constitucional fossem processados ​​​​legalmente. No entanto, cinco generais do exército boliviano, que cumpriram seu dever patriótico, estavam sendo julgados por crimes inexistentes. Mas o pior de tudo é que essa pérfida manobra de Mesa abriu as portas para que Morales concorresse às eleições de 2005.

A segunda grande virada é a chamada Assembleia Constituinte. Ali aparecem outros dois cúmplices do MAS: Jorge Quiroga e Samuel Doria Medina.

La Asamblea Constituyente se instaló el 06 de agosto del 2006. El Artículo 3 de su convocatoria afirmaba: «Es independiente y ejerce soberanía del pueblo, no depende ni está sometida a los poderes constituidos y tiene como única finalidad la reforma total de la Constitución Política do Estado". Da mesma forma, seu período de validade foi entre seis meses e um ano. Mas nada disso aconteceu.

Após completar o ano de funções, a Assembleia não tinha aprovado nenhuma norma. Portanto, por lei própria, deve ser dissolvida. No entanto, em 3 de julho de 2007, a própria Assembleia prorrogou seu mandato até 14 de dezembro daquele ano. Mas esse não foi o pior dos vícios, e sim o fato de o Congresso ter promulgado, em 3 de agosto de 2007, a Lei Ampliadora da Constituinte, que estabeleceu o Referendo como mecanismo de aprovação.

Em 28 de fevereiro de 2008, Evo Morales, de acordo com Jorge Quiroga e Samuel Doria Medina, promulgou a Lei 3.837. Ajustando, mais uma vez, o procedimento e o texto constitucional. Pela lei 3.941 de outubro de 2008, Morales, Quiroga e Doria Medina consubstanciaram um novo acordo para interpretar o artigo 32 da Constituição Política do Estado. Desta forma, eles acabaram com a supremacia da Constituição. Naquela época, eles deram o golpe de misericórdia à República da Bolívia, mas concederam a certidão de nascimento ao Estado Plurinacional. Era evidente que o cocalero analfabeto não estava por trás desse projeto, seu papel era o de executor. O Estado Plurinacional foi constituído com assessoria de todo o Foro de São Paulo.

Embora o Estado Plurinacional tenha sido apresentado como inclusivo, tolerante e, principalmente, indígena, na verdade é exatamente o contrário. Primeiro, porque destrói o conceito de nação boliviana e, ao mesmo tempo, promove a desigualdade perante a lei. Em segundo lugar, procura submeter todas as instituições ao controle partidário. Assim, destrói a meritocracia. Em terceiro lugar, anula a propriedade privada das terras indígenas bolivianas, deixando-as à mercê dos caprichos de líderes e caudilhos. Quarto, centraliza toda a atividade econômica nas mãos do Estado. Por fim, busca a manutenção indefinida do poder.

É evidente que a crise económica, a corrupção da justiça, a desinstitucionalização das Forças de Segurança e os baixos níveis de escolaridade são apenas sintomas de um problema maior chamado: Estado Plurinacional. Portanto, desmantelar toda essa rede de corrupção e ineficiência é o maior desafio para os bolivianos. Não é uma questão exclusiva dos partidos políticos, pois a política é propriedade e responsabilidade de todos os cidadãos, não um monopólio dos políticos.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.