Correa não ressuscitou

Pedro Corzo

Por: Pedro Corzo - 28/04/2025

Colunista convidado.
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Parece mais do que evidente que o povo equatoriano percebeu o que o retorno à presidência de Rafael Correa, um criminoso condenado por corrupção que se arrependerá até o dia de sua morte de ter apoiado Lenin Moreno em sua busca pelo mais alto cargo do país, significaria para eles e seu país.

Esse indivíduo, novamente no poder, teria dado uma volta no parafuso que os roubaria irrevogavelmente o futuro, assim como aconteceu em Cuba, Nicarágua, Bolívia e Venezuela, onde as propostas de Castro-Chávez mergulharam essas pessoas em um estado de prostração moral e material muito difícil de superar.

O populismo promovido por esse autocrata é extremamente perigoso porque incorpora o déspota esclarecido que, munido de conhecimento acadêmico, usa essa percepção para explorar mais efetivamente as prerrogativas do cidadão. Correa, na minha opinião, é o déspota do hemisfério que mais se assemelha a Fidel Castro, porque é um iluminado possuidor da verdade absoluta que não sofre a agonia da dúvida.

Indivíduos como Correa exercem uma espécie de atração fatal sobre um segmento da população. Eles são capazes de interpretar os desejos de um grupo significativo de pessoas que, independentemente dos abusos e erros que cometam, sempre estarão ao seu lado. Eles têm uma massa que se move ao ritmo do seu flautista e desfruta das vicissitudes do abismo.

Correa, assim como Fidel Castro, Nicolás Maduro, Evo Morales e Daniel Ortega, para citar apenas alguns dos líderes castro-chavistas, possui aquele encanto mágico que, para seus apoiadores, os coloca além do bem e do mal, razão pela qual eles são um perigo real em qualquer sociedade democrática.

Um indivíduo com firmes convicções democráticas jamais poderá concordar em ter seus direitos violados por um governante que assume o poder de interpretar os desejos da nação criando comitês de denunciantes que escrutinam as vidas dos outros ou permitindo mudanças econômicas que aprofundariam a miséria de todos.

Afirmar que Nicolás Maduro representa um regime legítimo é um absurdo dos primórdios do socialismo do século XXI, como quando Hugo Chávez proclamou que levaria a Venezuela ao mar cubano da felicidade. Tanto Cuba quanto a Venezuela estão longe de ser um paradigma para qualquer sociedade, e quem proclama isso está cometendo suicídio político, como fez a candidata Luisa González.

Além disso, a capacidade de sobrevivência desses indivíduos não tem precedentes. Eles são capazes de se aliar a seus inimigos ferrenhos para permanecer no poder, como fez Daniel Ortega na Nicarágua quando chegou a um acordo eleitoral que lhe permitiu ganhar a presidência em 2007, ou como fizeram Fidel e Raúl Castro em Cuba, que conseguiram culpar o embargo dos EUA por toda a sua culpa, mesmo gastando centenas de milhões de dólares por ano nesse mercado, enquanto impõem um bloqueio que dura 66 anos sobre o povo que eles desgovernam.

Aparentemente, os equatorianos tomaram consciência aguda da realidade ao perceberem que a eleição de um testa de ferro de Correa implicaria seu retorno, já que ele teria realizado as manobras necessárias para proteger o fugitivo da justiça, assim como fez o líder justicialista argentino Héctor Cámpora na década de 1970. Ao se tornar presidente, ele eliminou todas as restrições existentes contra Juan Domingo Perón, tornando possível que ele se tornasse presidente.

O fugitivo foi o perdedor da eleição, não o candidato González. Contudo, não duvido da capacidade de sobrevivência desses demiurgos, como diria Anatole France e como me disse meu amigo Alberto Paz, profundo conhecedor da realidade equatoriana e cubana. Ele acredita que o fracasso de Correa foi consequência dos muitos erros de campanha de seus testas de ferro, como também afirmam alguns veículos de comunicação do país sul-americano.

O problema é que esses caras nunca perdem. Eles acusam o vencedor de fraude, mas não apresentaram uma queixa apoiada em provas suficientes.

O ex-presidente provou estar entre aqueles que se consideram escolhidos. Sua visão da realidade só lhe permite apreciar a existência de duas cores, o preto e o branco, caráter que consegue incutir em seus seguidores, assim como permite que seus seguidores busquem apenas o confronto, o tudo ou nada que vivemos em Cuba, quando as massas exigiam um muro sem saber por que nem para quem.


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