Por: Hugo Marcelo Balderrama - 13/07/2025
Colunista convidado.Caminhando pelas principais cidades da Bolívia, encontramos diversos centros médicos iranianos. Por exemplo, o Hospital Iraniano funciona em El Alto, a quarta cidade mais populosa do país, atrás de La Paz, Santa Cruz de la Sierra e Cochabamba, desde 2009. Baixos custos para as especialidades de Clínica Geral, Clínica Médica, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria, Traumatologia, Cirurgia, Oftalmologia, Odontologia, Laboratório Clínico, Radiologia e Ultrassom são as táticas de comunicação utilizadas para se apresentarem como uma opção de qualidade para os mais necessitados.
Contudo, não há santo que desconfie de tão grande esmola?
Esse mesmo fenômeno já foi observado na Venezuela em décadas passadas. Portanto, a presença do Irã na América Latina não responde a interesses humanitários sólidos de apoio aos mais necessitados em nossos países, mas sim a uma estratégia de desestabilização que busca incomodar os Estados Unidos em sua própria região. O Hezbollah é o cartão de ataque mais letal, pois sua fusão com regimes autoritários e organizações criminosas lhe proporcionou uma enorme fonte de financiamento para sua guerra assimétrica. Nesse sentido, o Centro para uma Sociedade Livre e Segura, um instituto de pesquisa geopolítica, destaca em seu relatório "Estratégia do Irã para as Américas":
Na Venezuela, assessores do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) falam abertamente sobre a construção de "Houthis Caribenhos" — pequenos barcos armados com mísseis, minas e drones kamikazes que podem bloquear o acesso de frotas americanas ou aliadas ao Atlântico Sul. O calado raso dessas embarcações permite que rondem áreas ribeirinhas e costeiras. Comandantes venezuelanos já as equiparam com munições de espera de fabricação iraniana para exercícios de ataque de saturação.
Da mesma forma, na Bolívia, a ditadura do Movimento ao Socialismo, primeiro sob Evo Morales e depois sob Luis Arce Catacora, deu à teocracia iraniana a oportunidade de influenciar as Forças Armadas e, além disso, de estabelecer centros de treinamento na região de Chapare, em Cochabamba. Os "professores", na verdade terroristas, doutrinam os recrutas com uma mistura de religião e subversão.
Ideologicamente, a narrativa iraniana foi defendida e amplificada pela esquerda radical na Bolívia, particularmente pelos movimentos indígenas. Ao apresentar a Revolução Islâmica como paralela às lutas anti-imperialistas dos povos indígenas, o Irã inseriu-se nos grupos de cocaleiros e nos militantes do falecido Felipe Quispe, El Mallku. Nicarágua e Cuba atuaram como amplificadores ideológicos, oferecendo plataformas diplomáticas e infraestrutura de propaganda como a HispanTV e a TeleSUR. Sem mencionar os professores universitários que usavam, e ainda usam, suas salas de aula como antenas de retransmissão.
Consequências?
Relatórios de inteligência da Argentina, Chile e Peru mostram que a Bolívia deixou de ser um país anfitrião de terroristas e se tornou um centro de treinamento e um trampolim para a exportação de indivíduos radicais e violentos. Essa conexão entre crime, castro-chavismo e terrorismo deu ao Hezbollah acesso a redes logísticas que chegam à fronteira com os EUA.
As redes de tráfico de pessoas, que prosperam com milhões de latinos que fogem da fome causada por ditaduras, agora transportam não apenas migrantes, mas também terroristas, como a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) explicou claramente.
É neste contexto que o confronto entre Israel e Irã, que até agora conteve as hostilidades, deve ser visto como parte de uma guerra global, onde não há países neutros. Nesse sentido, Carlos Sánchez Berzain, em seu artigo "Israel, a Defesa da Paz e Segurança Internacionais e a Mudança Geopolítica Global", enfatiza:
Na frente de Gaza, o objetivo do governo Trump também é pôr fim ao conflito, mas o Irã está impedindo isso, e Israel optou por uma luta frontal contra o autor e apoiador desse e de outros conflitos. Portanto, as ações israelenses contra o regime teocrático, que agora podem ser chamadas de guerra Israel/Irã, estão provocando mudanças geopolíticas globais ao enfraquecer o apoio iraniano à Rússia, diminuir ou paralisar o apoio a grupos terroristas, interromper a expansão militar/cultural teocrática iraniana na América Latina e na África e colocar em risco a existência do regime aiatolá.
Concluindo, o próximo governo nacional terá uma estratégia para libertar a Bolívia da rede do crime organizado e, assim, deixar de ser um peão da teocracia iraniana?
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