BRICS: O Canto do Cisne

Beatrice E. Rangel

Por: Beatrice E. Rangel - 09/07/2025


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A reunião anual do grupo BRICS no Rio de Janeiro deixa em todos os observadores de assuntos internacionais a forte sensação de que testemunhamos o início do fim deste grupo multinacional. Sinais de dissolução eram perceptíveis na presença. A China, o novo e poderoso ator global, enviou seu primeiro-ministro enquanto o presidente permaneceu em Pequim, sem dar sinais de enfrentar a situação complicada que o mantinha em casa. E o primeiro-ministro se recusou a aprovar um conjunto de iniciativas apresentadas pelo país anfitrião, considerando-as questões de competência presidencial.

A presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, Wilma Rousseff, entregou um relatório burocrático destacando o crescimento do número de projetos, a entrada da Colômbia e do Uzbequistão e indicando que, embora algumas nações do Sul Global tenham preferido financiar projetos de desenvolvimento em moeda local, a participação do dólar nas transações internacionais não diminuiu.

Nessa declaração de Dilma Rousseff está a chave para o processo de dissolução. Porque, de forma um tanto imprudente, o presidente brasileiro Inácio Lula da Silva decidiu se tornar um peão da Rússia na campanha para reduzir a participação do dólar nas transações internacionais. A questão caiu como uma pedra no abismo entre os demais membros do grupo, visto que a China detém dólares em suas reservas internacionais e US$ 778 bilhões somente em títulos do Tesouro americano. A Índia, por sua vez, tem 14% de suas reservas internacionais denominadas em dólares, e o Brasil, país presidido por Luis, detém 62% de suas reservas em dólares. Assim, uma substituição pelo dólar afetaria diretamente o valor das reservas de todos os principais membros do grupo BRIC, e como disse Lord Callaghan, "qualquer cruzada política se dissolve quando afeta os bolsos dos participantes".

E para aumentar a tensão, o presidente Trump declarou abertamente que qualquer país que ingressasse no BRIC estaria sujeito a uma tarifa inicial de 10% sobre suas exportações para os EUA. Dado que a estagnação das economias europeias, a desaceleração do crescimento da China e a paralisia econômica do Japão tornam o mercado norte-americano o único dinâmico e em crescimento, vejo a lista de candidatos à entrada no BRIC encolhendo significativamente.

Assim termina uma das previsões econômicas mais ousadas do início deste século. De fato, o economista Jim O'Neill, do banco americano Goldman Sachs, previu em um artigo intitulado "Building Better Global Economic Building Blocks" em 2001 que Brasil, Índia, China e Rússia (BRIC) estariam entre as economias mais poderosas do mundo neste século. A previsão se concretizou nos casos da China e da Índia, mas, nos casos do Brasil e da Rússia, não apenas falharam em atingir seu objetivo, como estão claramente em regressão.

Se as políticas de Lula de aumentar os gastos públicos sem aumentar a receita continuarem, e as políticas de Putin de ocupação da Ucrânia continuarem, ambas as nações poderão enfrentar grandes choques sistêmicos, com as consequências resultantes para a Europa e a América Latina.


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