Bolívia: leopardismo andino-caribenho

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 01/09/2025

Colunista convidado.
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O processo eleitoral boliviano, realizado em 17 de agosto, surpreendeu a muitos, pois estava sendo comercializado internacionalmente como um triunfo contra o socialismo do século XXI e o fim da esquerda no país. Desculpe, mas nada poderia estar mais longe da verdade. Vejamos:

Em primeiro lugar, o vencedor do primeiro turno, Rodrigo Paz, é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que, entre outras coisas, fez parte do governo do UDP na década de 1980, mesmo período que levou a Bolívia a uma hiperinflação de 27.000%, e que, na década de 1990, convidou o próprio Fidel Castro para a Bolívia. De fato, Paz Zamora saiu da aposentadoria para recuperar a proeminência na política boliviana. Além disso, o grande número de pessoas próximas a Morales que agora aparecem nas fileiras do Partido Democrata Cristão (PDC) é outra fonte de suspeita.

Em segundo lugar, a calma com que Arce Catacora e Evo Morales acolheram a vitória do PDC. Não seria surpreendente se houvesse uma pequena ajuda do regime para colocar Rodrigo Paz no poder. Os motivos? Impunidade e, mais perigosamente, usar Edman Lara, o candidato a vice-presidente, como curinga para o retorno de Evo ao poder. De fato, a euforia de Evo Morales em relação à votação, "mais pelo Capitão Lara do que por Rodrigo", em suas próprias palavras, é impressionante. Há um ditado que diz: "O que você vê, você não questiona", uma frase que se aplica perfeitamente à simpatia que os setores cocaleiros sentiam por Lara.

Terceiro, os discursos incendiários, carregados de populismo, muito ao estilo de Hugo Chávez ou Evo Morales. Obviamente, a gestão econômica e a construção institucional não aparecem, nem por um instante, em meio à bravata de Lara. A esse respeito, Emilio Martínez, em seu artigo "Um Presidente Fusível e um Vice-Evangelista", afirma:

No poder, este presidente em dificuldades não será capaz de lidar com a crise inflacionária nem com a agitação social planejada. Ele será um novo Siles Zuazo. Nas circunstâncias mencionadas, o Capitão Lara, o trunfo de Evo para retomar o poder, assumiria o cargo mais alto.

Para o socialismo do século XXI, o importante é sustentar o regime. A partir daí, podem criar partidos de fachada. Ou seja, oposição por fora, mas oficialismo por dentro. Comemorar porque o MAS não terá representação no Congresso é olhar para as árvores, mas esquecer a floresta. Em qualquer análise, o regime, os partidos e o governo devem ser separados.

O regime domina a Bolívia desde 2003. A sede dessa organização criminosa fica em Havana. Portanto, o país nada mais é do que um satélite em sua franquia criminosa. Você notou que nenhum dos ditadores do socialismo do século XXI expressou preocupação com o que aconteceu em 17 de agosto? A resposta é simples: eles sabem que nada aconteceu.

Isso nos leva à próxima parte: o regime decidiu sacrificar o Movimento ao Socialismo para se manter no poder. Um leopardismo com um toque andino-caribenho: mudar tudo para que, no final, tudo permaneça igual.

Entretanto, na Bolívia o segundo turno está configurado da seguinte forma:

O PDC, com propostas irresponsáveis ​​como a de conceder empréstimos subsidiados. Enquanto isso, Tuto Quiroga, com um plano tipicamente keynesiano e um gradualismo muito perigoso. Com essas opções, a situação está ainda pior do que antes de 17 de agosto. Se me perguntarem, apesar de todos os problemas, a alternativa de Quiroga é, no mínimo, previsível. Ou seja, sabemos mais ou menos onde ele vai errar.


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