As ditaduras são instaladas quando há traição da oposição e do empresariado nacional

Carlos Sánchez Berzaín

Por: Carlos Sánchez Berzaín - 12/03/2023


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O século XXI, projetado como o da plena democracia nas Américas, tornou-se o da expansão das ditaduras. A ditadura cubana que consumia seu período especial na última década do século passado estendeu seu sistema de crime organizado à Venezuela, Bolívia e Nicarágua, e continua sua conspiração na região. Mas, mesmo com o controle dos governos nos países democráticos, a democracia não foi quebrada porque as ditaduras se instalam quando há traição da oposição e do empresariado nacional.

Em 11 de setembro de 2001, enquanto a "Carta Democrática Interamericana" estava sendo assinada em Lima-Peru, ocorreu um ataque terrorista em território dos Estados Unidos. A Carta Democrática, tratado constitutivo, marca a institucionalização da democracia como “o direito dos povos das Américas que os governos têm a obrigação de promover e defender”; Os ataques terroristas marcam a mudança radical na política externa dos Estados Unidos que deixou a região aberta para a expansão das ditaduras.

Organização com recursos ilimitados, liderança pública de Hugo Chávez que subordinou Fidel Castro, fundada na estrutura de inteligência e operações da ditadura cubana que sangrou a região nos últimos 40 anos, mecanismo do Foro de São Paulo, discurso anti-imperialista, Propostas populistas contra governos democráticos assediados pelo cumprimento de metas econômicas, desestabilizaram o sistema democrático, derrubaram governos, crises e tomaram o poder.

O populismo bolivariano tornou-se o socialismo do século XXI ou castrochavismo. Com a oportuna morte de Chávez, a ditadura cubana assumiu a liderança que tanto a incomodava e a Venezuela passou de sócia e patrão capitalista a principal colônia. A liderança da América Latina no século XXI foi exercida por Hugo Chávez e com sua morte passou para os ditadores de Cuba. Assim ficou marcado o eixo de confronto entre ditadura e democracia que se revelaria globalmente com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A Carta Democrática Interamericana, que deveria ter sido o início da "democracia plena", contraditoriamente marca os piores momentos da democracia nas Américas com o controle da Organização dos Estados Americanos pelo Castro-Chavismo com o governo Insulza, em que o elementos essenciais da democracia são ignorados, a violação dos direitos humanos é acobertada, a existência de presos e exilados políticos é ignorada e a democracia é subordinada ao dinheiro vindo do esvaziamento da Venezuela, da corrupção com verbas federais do Brasil com Lula/ lavajato e do desenvolvimento dos narcoestados que são hoje Cuba, Venezuela, Bolívia e Nicarágua.

Nesse cenário perigoso, o castrochavismo chegou a controlar praticamente todos os governos da América Latina, mas só conseguiu instaurar ditaduras na Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Equador, que foi redimido por Lenin Moreno. Controlou a Argentina com os Kirchners e agora de novo mas sem conseguir quebrar a democracia, no Paraguai com Lugo mas entregaram o poder, no Uruguai com Mujica e a democracia continua, no Chile Bachelet passou e agora têm Boric sem quebrar o quadro institucional, no Brasil passou Lula Dilma Rousseff e agora voltou Lula mas a democracia resiste, estão na Colômbia com o Petro e no México com López Obrador... América Central e Caribe mostram a mesma coisa.

Os países onde o castrochavismo fez ditaduras são aqueles em que a oposição política "fez arranjos compreensivos para quebrar as instituições democráticas" permitindo assembleias constituintes, falsificando reformas e mecanismos que de forma progressiva e irreversível concederam o controle total do poder. Na Nicarágua foi alemão e mais a troco da impunidade, na Bolívia Mesa, Quiroga, Doria Medina, Ortiz... com negócios, na Venezuela... tantos e tão conhecidos pelos venezuelanos... Uma vez instalada a ditadura, todos os vendidos da democracia são “oposição funcional”.

Depois da traição política veio a do empresariado nacional, que se conformou com acordos importantes e lucrativos com o regime que incluíam a liquidação da “imprensa livre” através da venda ou confisco de meios de comunicação. Foram parceiros na liquidação da reportagem e do jornalismo investigativo que culminou em prisões e exílio.

Há mais sociedades que venceram e estão vencendo as agressões das ditaduras. Peru, Colômbia, México, novamente Argentina, Chile, Equador e Brasil fazem isso hoje. Oposições que não vendem princípios ou instituições democráticas, empresários que não preferem negócios oportunistas ao livre mercado e jornalistas que com essas condições podem continuar sendo a última trincheira da liberdade contra o crime organizado transnacional.

*Advogado e Cientista Político. Diretor do Instituto Interamericano para a Democracia

Publicado em Infobae.com em 12 de março de 2023

Publicado em Infobae.com sábado dezembro 30, 2023



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