A miragem boliviana desaparece

Hugo Marcelo Balderrama

Por: Hugo Marcelo Balderrama - 13/03/2023

Colunista convidado.
Compartilhar:    Share in whatsapp

A Bolívia seria um país despercebido no contexto internacional se não fosse por nossa história de narcotráfico, criminalidade, corrupção e crises econômicas. Porém, a partir de 2006, as ruas bolivianas se encheram de prédios suntuosos, carros do ano e outros luxos. A mídia internacional começou a falar sobre um "indígena" administrando um milagre econômico em uma pequena nação andina. No entanto, tudo isso era verdade ou era apenas um sonho?

Em maio de 2006, Evo Morales e seus bandidos tomaram à força toda a cadeia produtiva do gás boliviano. Como sempre nesses casos, os entusiastas da velha esquerda apareceram para aplaudir a bravata do cocalero. Naquela época, os preços dos hidrocarbonetos, portanto, do gás, já haviam atingido níveis sem precedentes. Em outras palavras, Morales havia se apropriado de uma enorme fonte de recursos. Obviamente, isso lhe deu a oportunidade de esbanjar dinheiro em construções inúteis, a Vila Olímpica de Cochabamba, para citar um caso, e comprar a consciência de empresários, jornalistas e um longo etc.

Esse modelo de gasto irracional começou a dar sinais de esgotamento em 2014, época em que todos comemoravam o aparente milagre. No entanto, o governo do "povo" não estava disposto a parar com o desperdício, era preciso continuar mantendo as aparências de sucesso. Então, eles tiveram duas ideias "brilhantes": a) emprestar o máximo de dinheiro possível e b) estimular o crédito baixando artificialmente as taxas de juros.

Com tanto dinheiro circulando na economia, era normal que os preços das mercadorias subissem, inclusive as casas. Mas o governo não chamou isso de inflação, mas de "boom", em parte apoiado pelos equívocos do mainstream econômico.

Observe a idiotice desses cálculos, se o pão subir 20 centavos eles gritam inflação, mas se a habitação aumentar em até 50% eles chamam de "boom". Esses golpes publicitários o ajudaram a permanecer no poder por mais uma década.

No entanto, justamente quando Arce Catacora e seu tenente Marcelo Montenegro se gabavam de suas grandes conquistas, a economia boliviana começou a entrar em colapso por falta de combustível e dólares.

O governo tentou nos convencer de que estava tudo ótimo. Até que, no domingo, 27 de fevereiro, Reynaldo Yujra, o chefe da ASFI, com a típica atitude de um rufião, ameaçou os que falam do assunto com a instauração de processo criminal. Por sorte, ninguém levou Yujra a sério, a procura por dólares cresceu com o passar dos dias e o câmbio de 6,96, pelo menos no mercado paralelo, é coisa do passado.

Sobre o futuro do país, Mauricio Ríos García, economista e assessor de investimentos, em um artigo intitulado: A luta entre Arce e Morales se intensifica em meio à crise econômica na Bolívia, menciona o seguinte:

Se talvez o público acabe perdendo a confiança na moeda nacional e na capacidade do governo Arce de enfrentar o caos crescente, e se além disso uma série de desvalorizações como as de Siles Zuazo entre 1982 e 1985 (a última de 40%, mais conhecido como “desdolarização”) marcam o futuro próximo de Arce, como parece cada dia mais provável, restaria apenas sua renúncia e a convocação antecipada de eleições.

Há um velho ditado que diz: "Você pode enganar todo mundo algumas vezes. Você pode enganar alguns o tempo todo. Mas você não pode enganar todo mundo o tempo todo." Isso é exatamente o que acontece na Bolívia. Bem, a ditadura não pode mais sustentar sua aparência de democracia ou a mentira de uma economia estável. Tempos sombrios estão chegando na Bolívia.


As opiniões aqui publicadas são de inteira responsabilidade de seus autores.